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11 de outubro de 2023

POESIA EM LÍNGUA PORTUGUESA, século XX (7)

 

AO LONGE OS BARCOS DE FLORES

 

Só, incessante, um som de flauta chora,

Viúva, grácil, na escuridão tranquila,

– Perdida voz que de entre as mais se exila,

– Festões de som dissimulando a hora.

 

Na orgia, ao longe, que em clarões cintila

E os lábios, branca, do carmim desflora…

Só, incessante, um som de flauta chora,

Viúva, grácil, na escuridão tranquila.

 

E a orquestra? E os beijos? Tudo a noite, fora

Cauta, detém. Só modulada trila

A flauta flébil… Quem há-de remi-la?

Quem sabe a dor que sem razão deplora?

 

Só, incessante, um som de flauta chora…

 

CAMILO PESSANHA, Clepsidra  (1920)


8 comentários:

  1. Exactamente, sim. E ainda há aqueles versos: «Quem poluiu, quem rasgou os meus lençóis de linho, / Onde esperei morrer, - meus tão castos lençóis?» Ou então, o que também não é mau: «Eu vi a luz em um país perdido. / A minha alma é lânguida e inerme.», etc. Não vejo é o trabalho da restante confraria...

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  2. Já vai no sétimo poema da antologia. Faltam 40. Amanhã boto um de Luiza Neto Jorge.

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    1. Ora bem. Eu mantenho a periodicidade semanal.

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    2. Boa! 101 poemas a ritmo semanal atira-nos para o fim do Verão de 2025. «Saudoso já deste Verão que vejo [tão distante!] / Lágrimas para as flores dele emprego», etc. -- Lá dizia o Ricardo Reis num dia em que andava triste com a Lídia... ou seria com a Neera? Já não me lembro. Com a Marcenda não era certamente....
      Ah! Amanhã já não avançarei com a Luiza Neto Jorge, fica mais para diante.

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    3. O Ricardo Reis era um árcade que se reconhecia.

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    4. Ah!ah!ah! E pensarmos que Teófilo Braga chamava «árcade póstumo» ao Castilho...

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  3. A solidão pesa com o tamanho do infinito. Estar só pode ser o céu da mesma amplidão.

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