Páginas

19 de novembro de 2023

POESIA EM LÍNGUA PORTUGUESA, século XX (43)

 

Saudoso já deste verão que vejo,

Lágrimas para as flores dele emprego

           Na lembrança invertida

           De quando hei-de perdê-las.

Transpostos os portais irreparáveis

De cada ano, me antecipo a sombra

            Em que hei-de errar, sem flores,

            No abismo rumoroso.

E colho a rosa porque a sorte manda.

Marcenda, guardo-a; murche-se comigo

            Antes que com a curva

            Diurna da ampla terra.

 

RICARDO REIS, “Ode XVIII”, Athena, nº 1, Outubro de 1924


8 comentários:

  1. Magnífica esta ode feita segundo regras clássicas. Para o caso de não terem reparado, chamo a atenção para o termo «marcenda» (antepenúltimo verso). O que é que vos diz?

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Fui ao Edge... mas assim não vale; como o poema não me comoveu, lera, mas não liguei. Perante o desafio da pergunta, lembrou-me «primavera»... mas não é.

      Eliminar
    2. Eu leio-a como a ofertante da rosa. Dir-me-á.

      Eliminar
    3. Quem se lembra da personagem Marcenda de "O Ano da Morte de Ricardo Reis"?

      Eliminar
    4. Li quando saiu, reli há algum tempo o primeiro capítulo. Não sei se a rapariga no hotel já fora nomeada, creio que não, mas Marcenda até é um nome saramaguiano...

      Eliminar
    5. Nome de pura invenção do Saramago. Só que na ode, Marcenda não é nome, mas expressão aportuguesada do verbo latino correspondente a "murchar". Latinórios era com o Reis, conhecedor de Horácio e outros que tais...
      Em verdade, estas coisas é que me deixam comovido.


      Eliminar
    6. Suponho que se refira a estas homenagens meio escondidas, certo?

      Eliminar