UM ENXAME DE MOSQUITOS
Se agrupam ávidos e avançam
Em círculos trémulos
Desenfreadamente divertidos
Uma hora e logo sumidos
No delírio se esgotam zubinando
De pura alegria da morte.
Impérios decadentes e arruinados,
Tronos dourados desaparecidos
Na voragem da noite e da lenda, sem deixar traço,
Jamais conheçeram dança tão frenética.
NA NÉVOA
Como é estranho andar no nevoeiro!
Sòzinha a pedra e a planta,
Uma árvore não vê a outra,
Solidão tanta.
Muitos amigos eu tinha
No tempo da vida viva;
Agora que a névoa cai,
De tudo a vista me priva.
Nada sabe quem não sabe
Como a treva nos separa
De tudo e todos, tão doce,
Inescapável, avara.
Como é estranho andar no nevoeiro!
A vida é solitude -- não adianta.
Ninguém conhece um outro.
Solidão tanta.
in Jorge de Sena, Poesia do Século XX, 2.ª ed., Coimbra, Fora do Texto, 1994, pp. 190-192
(lido na sessão de 8 de Maio de 2015)
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