29 de dezembro de 2014

Alves Redol, 103



Alves Redol nasceu em Vila Franca de Xira
em 29 de Dezembro de 1911

24 de dezembro de 2014

Charlotte prepara o Natal

«No dia em que Werther escreveu ao seu amigo a última carta a que acabamos de aludir, fora no domingo antes do Natal; foi à noite a casa de Carlota e encontrou-a só. Estava ocupada a preparar os brinquedos que destinava aos irmãos e irmãs como prendas. Werther falou da alegria que iam ter as crianças e do tempo em que a abertura inesperada de uma porta e a aparição de uma árvore cheia de velas, de gulodices e de maçãs nos davam o maior prazer.»

Goethe, Werther [1774], tradução de João Barreira, Lisboa, Editorial Verbo, s.d., p. 153 

20 de dezembro de 2014

BOAS FESTAS!


Para o(a)s prezado(a)s confrades do Clube de Leitura Ferreira de Castro, de Sintra, e para todos os visitantes da "Curva", os meus votos de uma quadra natalícia cheia de Paz e Amor!

(Fernando Faria)




16 de dezembro de 2014

Jane Austen, 239

retrato de Jane, pela irmã, Cassandra, c. 1810

Jane Austen nasceu em Steventon, no Hampshire, 
em 16 de Dezembro de 1775

15 de dezembro de 2014

IN MEMORIAM, José Carlos Ary dos Santos

Requiem aeternum dona eis,
                                                                                                                                                                         Domine, et lux perpetua
                                                                                                                                                                                         luceat eis.»

Que a terra lhe seja pesada.
Que lhe apodreça o corpo e os olhos fiquem vivos,
Se lhe soltem os dentes e a fome fique intacta
E a alma, se a tiver, que lha fustigue o vento
E arrase com ela a memória gravada
Na lembrança demente dos que o choram.

Que a mulher que foi dele oiça o vento na noite,
Cheio de ossos e uivos
E garfos aguçados
E que reparta o medo com o primeiro intruso
E o vento se insinue pelas portas fechadas
E rasteje no quarto
E suba pela cama
E lhe entre no olhar como estiletes de aço
Lhe penetre os ouvidos como agulhas de som,
Lhe emaranhe os cabelos como um nó de soluços,
Lhe desfigure o rosto como um ácido em chama.

Que a mulher que foi dele oiça o vento na noite,
Que a mulher que foi dele oiça o vento na cama!

Que o nome que era o seu o persigam os ecos,
O gritem no deserto as gargantas com sede,
O murmurem no escuro os mendigos com frio,
O clamem na cidade as crianças com fome,
O soluce o amante de súbito impotente,
O maldigam no exílio as almas sem descanso

Que o nome que era o seu seja a bandeira negra,
A pálpebra doente,
O vómito de sangue..

Que o gesto que era o seu o imitem as mães
Que se torcem de dor quando abortam nas trevas,
O desenhem a lume os braços amputados,
O perpetue o esgar dos jovens mutilados,
O dance o condenado que morre na fogueira.

Que o gesto que era o seu seja o punhal do louco
A arma do ladrão
A marca do vencido.

Que o sangue que era o seu seja o rictus da tara,
A máscara de sal,
A vingança do pobre.
E que o Exterminadsor, no seu trono de enxofre,
O faça tilintar os guizos da tortura
Até que o mundo o esqueça
E mais ninguém o chore.


José Carlos Ary dos Santos, A Liturgia do Sangue (1963) / Obra Poética, edição de Francisco Melo, 6.ª edição, Lisboa, Edições «Avente!», 2002.
(lido na sessão de 4.ª feira, 19 de Novembro de 2014)

10 de dezembro de 2014

LEITURAS DAS QUARTAS-FEIRAS...

«Lhe entrego dinheiro, prometo, tenho muito dinheiro fora. Não duvide: são cifras, maquias e quantidades. Tenho e tenho. E dou-lhe tudo, totalmente. Mas me traga chuva, uma porção de chuva boa, grossa e gorda. Estou doido? Por causa de querer que chova aqui, dentro da prisão? Pode ser, pode ser loucura. Mas a loucura é a única que gosta de mim. O senhor que é um inventador de realidades, me faça esse favor. Me invente, rápido, uma urgente chuvinha.
Antigamente, valia a pena ser preso. O cantinho da prisão nem era mau, comparado com o mundo que nos cabia, lá fora. Falo sério. Maioria do que aprendi foi na prisão. Ler, escrever: foi na prisão que me letrinhei. Minha vida era uma roda-ronda entre roubo e grades. Me prendiam: era um consolo cheio de sossego. Lá fora ficava o mundo, mais suas doenças, suas nauseabundâncias.»

(Do conto "A última chuva do prisioneiro")





de Jane Austen

«As minhas filhas começam agora a exigir a minha atenção de um modo algo diferente ao que têm sido acostumadas, uma vez que atingiram, neste preciso momento, aquela idade em que lhes é, de certa forma, necessário tornarem-se mais sociais e activas no mundo circundante. A minha Augusta perfez dezassete e a sua irmã mal é um ano mais nova. Posso congratular-me do facto de a sua educação não ter constituído tarefa árdua, não representando, portanto, a sua apresentação social, tenho razões para o crer, algum tipo de problema. Efectivamente, são raparigas doces: sensíveis, mas sem qualquer tipo de afectamento; realizadas, porém, fáceis no trato; carinhosas e, no entanto, vivas.»
início de «Um conjunto de cartas» [De uma mãe à sua amiga"], Amor e Amizade, tradução de Inês Fraga, Sassoeiros, Coisas de Ler, 2005, p.77.
(lido na sessão de quarta-feira, 19 de Novembro de 2014)

8 de dezembro de 2014

Tiago Salazar fala sobre PEQUENOS MUNDOS E VELHAS CIVILIZAÇÕES

«Ler Ferreira de Castro, 40 anos depois». No Museu Ferreira de Castro, sexta-feira, 12 de Dezembro, pelas 19 horas.
tel.: 219238828
 
capa de Roberto Nobre (1937)
 

2 de dezembro de 2014

QUEIXA E IMPRECAÇÕES DUM CONDENADO À MORTE, José Carlos Ary dos Santos

Por existir me cegam,
Me estrangulam,
Me julgam,
Me condenam,
Me esfacelam.
Por me sonhar em vez de ser me insultam,
Por não dormir me culpam
E me dão o silêncio por carrasco
E a solidão por cela.
Por lhes falar, proíbem-me as palavras,
Por lhes doer, censuram-me o desejo
E marcam-me o destino a vergastadas
Pois não ousam morder o meu corpo de beijos.


Passo a passo os encontro no caminho
Que os Deuses e o sangue me traçaram.
E negando-me, bebem do meu vinho
E roubam um lugar na minha cama
E comem deste pão que as minhas mãos infames amassaram
Com angústia e com lama.


Passo a passo os encontro no caminho.
Mas eu sigo sozinho!
Dono dos ventos que me arremessaram,
Senhor dos tempos que me destruíram,
Herói dos homens que me derrubaram,
Macho das coisas que me possuíram.


Andando entre eles invento as passadas
Que hão-de em triunfo conduzir-me à morte
E as horas que sei que me estão contadas,
Deslumbram-me e correm, sem que isso me importe.


Sou eu que me chamo nas vozes que oiço,
Sou eu quem se ri nos dentes que ranjo,
Sou eu que me corto a mim mesmo no pescoço,
Sou eu que sou doido, sou eu que sou anjo.


Sou eu que passeio as correntes e as asas
Por sobre as cidades que vou destruindo,
Sou eu o incêndio que lhes devora as casas,
O ladrão que entra quando estão dormindo.


Sou eu quem de noite lhes perturba o sono,
Lhes frustra o amor, lhes aperta a garganta.
Sou eu que os enforco numa corda de sonho
Que apodrece e cai mal o sol se levanta.


Sou eu quem de dia lhes cicia o tédio,
O tédio que pensam, que bebem e comem,
O tédio de serem sem nenhum remédio
A perfeita imagem do que for um homem.


Sou eu que partindo aos poucos lhes deixo
Uma herança de pragas e animais nocivos.
Sou eu que morrendo lhes segredo o horror
De serem inúteis e ficarem vivos.



José Carlos Ary dos Santos, A Liturgia do Sangue (1963) / Obra Poética, edição de Francisco Melo, 6.ª edição, Lisboa, Edições «Avente!», 2002.
(lido na sessão de 4.ª feira, 19 de Novembro de 2014)

1 de dezembro de 2014

Woody Allen, 79


Woody Allen nasceu em Brooklyn, Nova Iorque, a 1 de Dezembro de 1935

25 de novembro de 2014

João de Melo fala sobre ETERNIDADE

«Ler Ferreira de Castro, 40 anos depois». No Museu Ferreira de Castro, sexta-feira, 28 de Novembro, pelas 19 horas.
informações: museu.fcastro@cm-sintra.pt;
tel.: 219238828

1.ª edição, 1933
capa: Bernardo Marques

Eça de Queirós, 169


25 de Novembro de 1869, Póvoa de Varzim

24 de novembro de 2014

notas sobre a sessão de «Nenhum Olhar»

* Um pouco fora de tempo, deixo aqui umas linhas sobre o livro do último mês: 
* Um romance sobre a vivência trágica da vida, escuro por vezes obscuro. Noto um ethos alentejano -- algo que uma das participantes na sessão da passada sexta-feira [a 1.ª de Novembro], por sinal alentejana, baixa-alentejana, diga-se, não subscreveu, embora aceitasse a possibilidade de o Alto Alentejo, em especial o distrito de Portalegre, poder ser diferente quanto à psicologia colectiva. Não sei nem , pelo sangue, tenho como o saber. [Curiosamente, já depois destas linhas escritas, estive com uma nossa confreira, também alentejana do Baixo, que sentiu essa identificação.[

*Um confrade falou num De Profundis bíblico, o que me pareceu muito feliz, não sei se também sugestionado pelos nomes bíblicos das personagens masculinas. Um outro, também com grande acerto, falou num livro sobre o caos humano, o conflito com o que não se quer ver, uma poética da sombra. Um terceiro, falou na narrativa como um longo poema, no que estou de acordo. Foi uma grande sessão!

* Trata-se do seu primeiro romance, e podemos detectar algumas influências, uma reais outras talvez sugestão minha. Quanto às reais, é inegável que o estilo de José Saramago aqui se faz muito sentir. Falou-se de António Lobo Antunes, mas eu não dei por isso. Subjectivamente, ouvi os ecos de algum José Régio, das narrativas alentejanas, e Manuel da Fonseca, alguns contos seus. Referência também a Raul Brandão: já não acompanho.

* Houve quem gostasse, e muito, e quem detestasse; quem lhe apreciasse a estética e quem achasse o texto um emaranhado de divagações e/ou lugares-comuns. Éramos vinte, e a coisa andava pela metade-metade.

20 de novembro de 2014

leituras das 4ª feiras


 «Perdera a vida só num olho, um lado da cara todo esfacelado. O olho dele era faz-conta um peixe morto no aquário do seu rosto. Mas o sargento era tão apático, tão sem meximento, que não sabia se de vidro era todo ele ou apenas o olho. Falava com impulso de apenas meia-boca. Evitava conversas, tão doloroso era ouvir-se. Não apertava a mão a ninguém para não sentir nesse aperto o vazio de si mesmo. Deixou de sair, cismado em visitar no obscuro da casa a antecâmara do túmulo. O Correia perdera interesses na vida: ser ou não ser tanto lhe desfazia. As mulheres passavam e ele nada. E ladainhava: «estou morto por metade»
Agora, reformado, sozinho, mutilado de guerra e incapacitado de paz, Antunes Correia e Correia tomava conta das suas lembranças. E se admirava do folgo da memória. Mesmo sem o outro hemisfério não havia momento que lhe escapasse nessa caçada ao passado. Das duas uma: ou minha vida foi muito enorme ou ela fugiu-me toda para o lado direito da cabeça. Para as recordações virem á tona ele inclinava o pescoço.

(do conto "A Viagem da Cozinheira Lagrimosa". Lido na sessão de 19-11-2014)

18 de novembro de 2014

de José Eduardo Agualusa

«-- O amigo acredita em Deus?
A pergunta apanhou-me desprevenido. Deus? Eu estava dentro de um táxi, tinha fechado a porta e indicado o destino. Ainda pensei em sair mas o carro já corria, às curvas, por entre o trânsito transtronado de Lisboa. Assim, acomodei-me no assento, suspirei fundo e preparei-me para o pior.»

Início de «O taxista de Jesus», in Fronteiras Perdidas, 5.ª ed., Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2009, p. 19. (Lido na sessão de quarta-feira, 12 de Novembro)

17 de novembro de 2014

de Sarah Adamopoulos

«Ele queria um filho. Ele queria um filho. Ele queria um filho. Ele queria um filho. Ele queria um filho. Vou fazer-te um filho. Mas eu não quero um filho. Mas eu preciso dum filho. Então manda vir. Mas eu quero um filho teu. Ou contigo. Ou qualquer coisa assim. Eu quero um filho. Então faz um. Mas um filho não se faz sozinho. Pois não. Faz-se com uma mulher que quer ter um filho. Dá-me um filho. Não. Então ele começou a beber. [...]»

Excerto de «O Adeus aos feijões verdes», A Vida Alcatifada, Lisboa, Fenda, 1997, p. 72.
(lido na sessão de quarta-feira, 12 de Novembro)

de Paul Auster

«L. e eu casámos em 1974. O nosso filho nasceu em 1977, mas no ano seguinte o casamento tinha terminado. Nada disto é relevante agora -- excepto para situar a cena de um incidente que ocorreu na Primavera de 1980.»

início do texto #4 de O Caderno Vermelho, tradução de Fátima Freire de Andrade, 8.ª ed., Porto, Edições Asa, 2002, p. 21.

(lido na sessão de quarta-feira, 12 de Novembro)

16 de novembro de 2014

40 ANOS DE MOVIMENTO



O número 1 da revista literária Movimento (cadernos de poesia & crítica) foi lançado na cidade do Funchal em Novembro de 1973. A direcção e coordenação deste número único esteve a cargo do  poeta A J Vieira de Freitas, o verdadeiro impulsionador desta publicação. Natural da Madeira, Vieira de Freitas, era   um dos raros modernos residentes  no espaço insular. Queria fazer desta revista, um espaço para a divulgação da autêntica poesia e simultaneamente despertar nos leitores o  gosto pela  leitura e crítica poéticas inexistente a nível local.

 Houvera no início dos anos 70 o colóquio “Ao encontro da poesia”, na Escola Industrial e Comercial do Funchal. Nele participaram a poetisa Irene Lucília Mendes de Andrade, os poetas A J Vieira de Freitas e José António Gonçalves e o jornalista Tolentino de Nóbrega. Aqui foi  debatida a interminável (?!) questão entre antigos e modernos. Questionou-se essencialmente o versilibrismo, que não era aceite por todos;  Pelo seu simbolismo estes dois acontecimentos culturais vão entusiasmar a geração a que pertenço nascida na década de 50 e projectá-la depois.         

De autêntica poesia se trata. A revista Movimento contem  na variedade das suas vozes mui particulares, o fermento do discurso social na literatura que é nexo relacional e emocional nos textos ora apresentados. Participaram, com poemas rigorosamente originais 4 poetas continentais e 4 poetas madeirenses, que coloco por ordem de publicação : Eugénio de Andrade, António Ramos Rosa, Pedro Tamen, José Bento, A J Vieira de Freitas, José Agostinho Baptista, José António Gonçalves,e, Gualdino Rodrigues. 

A  revista Movimento  está de certo modo inspirada nos ideais da Árvore,    e nos poetas de 50 mas não rigorosamente. Observamos textos situados entre o simbolismo e filamentos do surrealismo, quase. Mergulha, outrossim    nas questões da consciência social , da existência, e da condição humana. Pelas suas preocupações sociais e estéticas e partilha de meios literários e éticos é exemplar para as novas gerações de poetas.     

 

15 de novembro de 2014

de Alberto da Costa e Silva

«Poeta quis ser, e, agora consolam-me, dizendo-me que fui poeta e -- quem sabe? -- sou.»

Excerto de «O deslumbramento do mundo», discurso de aceitação do Prémio Camões 2014, em 29 de Outubro passado, na Fundação da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.

De salientar outro excerto, formidável, de outro orador na cerimónia, Jorge Barreto Xavier, Secretário de Estado da Cultura, que aí se deslocou propositadamente, como era seu dever -- ao contrário do que sucedeu (talvez escandalosamente) com a ministra brasileira da Cultura, que justificou a ausência com "motivos de ordem pessoal". E disse Barreto Xavier: "Saúdo acima de tudo o homem que reúne de forma tão gloriosa todos eles [o poeta, o historiador, o ensaísta...], atribuindo a cada parte dons de palavra e de um imenso trabalho abençoado por uma escrita pessoal e ao mesmo tempo hoje património comum da língua portuguesa, uma escrita que que não se sabe bem se é literatura ou história, poesia ou prosa, ensaio ou novela, uma escrita que na reunião do conjunto da obra corresponde a um monumento construído ao rio Atlântico e às suas margens, do Brasil a África, de Portugal ao Brasil." 

in JL- Jornal de Letras, Artes e Ideias # 1151, Lisboa, 12 de Novembro de 2014
(lido na sessão de 12 de Novembro)

14 de novembro de 2014

de Antero de Figueiredo

«Nos paços reais de Santarém, D. Pedro esperava, impaciente, a chegada dos fidalgos criminosos. Mais de uma vez o rei passeara pela cortina do nascente e subira à torre albarrã, alongando aguçada e sôfrega vista por cima de Almeirim, das lezírias do Ribatejo -- para além, muito para além, para as bandas de Avis, de Barbacena, de Elvas, de Badajoz, em ânsia exasperada.»

Início de «A vingança de D. Pedro», extraído de D. Pedro e D. Inês (1913), in 14 Novelas Históricas Portuguesas, Lisboa, Estúdios Cor, 1965, p. 155.

(lido na sessão de quarta-feira, 29 de Outubro de 2014)

13 de novembro de 2014

de Ferreira de Castro

«Irmanados pelo mesmo arcabouço literário, pela mesma forte orquestração verbal, os dois separam-se quando as pupilas devem constituir elemento a aproveitar. Herculano tem pouca cor, usa poucas cores. A sua visão não encontra cromatismos e é como o seu pensamento: profundo, vasto, mas sóbrio. Se tivesse de pintar, seria como certos mestres da arte espanhola; sombrios, procurando exteriorizar-se pelo castanho e pelo negro. Há sempre algo de arte ibérica, conventual, neste génio português.»

Excerto de «Euclides e Herculano», Vária Escrita #3, Sintra, Câmara Municiapl, 1996, pp. 157. Texto originalmente publicado no n.º 0 (ou "espécime") de O Diabo -- Semanário de Crítica Literária e Artística, de que Ferreira de Castro foi fundador, tendo sido, por breve período, um dos seus directores..
Antologiei-o num pequeno conjunto de textos circunstanciais sob o título «A unidade fragmentada. Dispersos de Ferreira de Castro».

(lido na sesão de quarta-feira, 29 de Outubro de 2014)

12 de novembro de 2014

(IDEIAS AVANÇADAS...)

"Parecerá paradoxo a estes Catões portugueses ouvir dizer que as mulheres devem estudar; contudo, se examinarem o caso, conhecerão que não é nenhuma parvoíce ou coisa nova, mas bem usual e racionável.
Pelo que toca à capacidade, é loucura persuadir-se que as mulheres tenham menos que os homens. Elas não são de outra espécie no que toca à alma; e a diferença do sexo não tem parentesco com a diferença do entendimento.
... .... ....
Quanto à necessidade, eu acho-a grande, que as mulheres estudem. Elas, principalmente as mães de família, são as nossas mestras nos primeiros anos da nossa vida: elas nos ensinam a língua; elas nos dão as primeiras ideias das coisas. E que coisa boa nos hão-de ensinar, se elas não sabem o que dizem?
... ... ...
Além disso, elas governam a casa, e a direcção do económico fica na esfera da sua jurisdição. E que coisa boa pode fazer uma mulher que não tem alguma ideia da economia?
... ... ...
Muito mais porque não acho texto algum da lei, ou sagrada ou profana, que obrigue as mulheres a serem tolas e não saberem falar. As freiras já se sabe que devem saber mais alguma coisa, porque hão-de ler livros latinos. Mas eu digo que ainda as casadas e donzelas podem achar grande utilidade na notícia dos livros. Persuado-me que a maior parte dos homens casados que não fazem gosto de conversar com as suas mulheres e vão a outras partes procurar divertimentos pouco inocentes, é porque as acham tolas no trato.
... ... ...
Certo é que uma mulher de juízo exercitado saberá adoçar o ânimo agreste de um marido áspero e ignorante...
.... ... ...

(lido na sessão de 4ª feira, 12 de Novembro)

11 de novembro de 2014

Joana Bértholo fala sobre EMIGRANTES, de Ferreira de Castro

No MU.SA -- Museu das Artes de Sintra, 14 de Novembro 2014, 19 h.

capa de Stuart Carvalhais para a 1ª edição (1928)
 
informações: museu.fcastro@cm-sintra.pt;
tel.: 219238828

9 de novembro de 2014

ETERNIDADE






Quando não sabia. Mas o cavalinho de cartão entrara um dia na história da sua vida. Quando deu por ele? E são muitos quando. Quando a  fotografia de contornos pesados e rigorosos do Amândio Fotógrafo lhe devolveu a imagem. Menino com cavalo, isso mesmo. A cara plena de espanto, o colete de veludo, obviamente macio, calção, camisa branca, meia branca, sapato de fivela. A condizer com qualquer coisa animal. A pata branca do cavalo, o selim igualmente branco, a luz nas ventas. O espanto, também. Cavalo…cavalo, o nome soou.

 Mais tarde escreveria poemas dando-lhe prados maiores, veria cavalos correrem no grande ecrã, leria pinturas de cavalos em Júlio Pomar. Mas só mais tarde. O seu, de cartão e sonho quixotesco ficou agarrado ao minúsculo prado de madeira de pinho com rodízios. Quase um precipício.

Pediram-lhe que estivesse quietinho. Já  era, quietinho. E esteve mais. O momento era histórico. Sabia-o. Mas só sabia isso. Aquele era decididamente o momento. Susteve a respiração. Abriram-se-lhe instantaneamente duas luas de iluminação muito forte sobre o rosto. Ficou em décimos de segundo com as luas nos olhos. Disseram-lhe: “Já está”.

Foi a fotografia de menino com cavalo.  A única coisa verdadeiramente séria, certeira, que fez na vida. Interroga-se por vezes: fotografia? mas que é isso de fotografia? ainda não sabe. Gozou apenas aquele momento de menino-poeta-cavalo. Se a eternidade é. É aquilo: “já está”. E ele é, na marca do seu espanto aquele grão de eternidade.  

  

                                                                                       

                                                                                       

28 de outubro de 2014

de Paul Auster

«Pouco tempo depois do meu regresso a Nova Iorque (Julho de 1974), um amigo contou-me a história seguinte. Ela decorre na Jugoslávia, durante os que iriam ser os últimos meses da Segunda Guerra Mundial.»

Início do fragmento 3 de O Caderno Vermelho, de Paul Auster (1993), tradução de Fátima Freire de Andrade, 8.ª edição, Porto, Edições Asa, 2002, p. 15.
 (lido na sessão de quarta-feira, 22 de Outubro de 2014)

NA CASA DA ACHADA: Dez artistas de que Mário Dionísio falou

Na parte da exposição referente a Cândido Portinari, esta nota em que se fala de Ferreira de Castro:

27 de outubro de 2014

de H. Lopes de Mendonça

«Na açoteia da torre de menagem, Fernão Rodrigues Pacheco, debruçado sobre uma aberta das ameias, medita. O sol nascente banha de radiações leitosas o almafre amolgado e jogueteia nas solhas do laudel. Ouve-se a distância o surdo embate das catapultas de encontro aos muros da vila.»

Início de «A Truta», in 14 Novelas Histórica Portuguesas, Lisboa, Lisboa, Estúdios Cor, 1965, p. 127.
(lido na sessão de quarta-feira, 22 de Outubro de 2014)

24 de outubro de 2014

17 de outubro de 2014

Prémios Literários Sintrenses

atribuídos pela Câmara Municipal de Sintra entre 1987 - 2008

1987

DIÁLOGO DO VENTO E DO MAR
AUTOR: Guida Fonseca
Prémio Literário Ferreira de Castro, 1987 – Ficção Narrativa

O PORTÃO DAS COLINAS DO NADA– (Poemas da cidade de Londres)
AUTOR: Fernando Cabrita
Prémio Literário Oliva Guerra/1987 – Poesia

OS PAPELINHOS DE GARRETT
AUTOR: Luís Augusto Costa Dias
Prémio Literário Ferreira de Castro, 1987 – Ensaio Literário

1989

ANNO DOMINI 1348
AUTOR: Sérgio Luís de Carvalho
Prémio Literário Ferreira de Castro, 1989 – Ficção Narrativa

ODES DE MITILENE
AUTOR: Orlando Neves
Prémio Literário Oliva Guerra/1989 – Poesia

CONTA-CORRENTE 6 – ENSAIO SOBRE O DIÁRIO DE VERGILIO FERREIRA
AUTOR: Luís Mourão
Prémio Literário Ferreira de Castro, 1989 – Ensaio Literário

1992
A TEIA DE UM SEGREDO
AUTOR: José Jorge Letria
Prémio Literário Ferreira de Castro, 1992 – Literatura Infanto-Juvenil

LES TOURS DU MONDE DE FRADIQUE MENDES: A RODA DA HISTÓRIA E A VOLTA DA MANIVELA
AUTOR: Américo António Lindeza Diogo e Osvaldo Manuel Silvestre
Prémio Literário Ferreira de Castro, 1992 – Ensaio Literário

CAPELA DOS ÓCIOS
AUTOR: José Jorge Letria
Prémio Literário Oliva Guerra, 1992 – Poesia

OS RIOS SOBRE A PAREDE
AUTOR: Hugo Santos
Prémio Literário Oliva Guerra/1992 – Poesia

RAPOSINHA MINHA AMADA
AUTOR: Álvaro Lopes Cardoso
Prémio Literário Ferreira de Castro/1992 – Literatura Infanto-Juvenil

1994
CARTA DE AUSENTES
AUTOR: Hugo Santos
Prémio Literário Oliva Guerra, 1994 – Poesia

1995
A CRIANÇA SUSPENSA
AUTOR: Risoleta Pedro Natálio
Prémio Literário Ferreira de Castro /1995 - Ficção Narrativa

ELOGIO DO CAVALEIRO
AUTOR: Serafim Ferreira
Prémio Literário Ferreira de Castro, 1995 – Ficção Narrativa

CARLOS DE OLIVEIRA – O TESTEMUNHO INADIÁVEL
AUTOR: Silvina Rodrigues Lopes
Prémio Literário Ferreira de Castro,1995 – Ensaio Literário

ELA JOGAVA XADREZ COM A LUA
AUTOR: Natália Bebiano da Providência
Prémio Literário Ferreira de Castro, 1995 – Literatura Infanto-Juvenil

1997

A SIBERIANA
AUTOR: Rui da Costa Lopes
Prémio Literário Ferreira de Castro, 1997 – Ficção Narrativa

O PÁSSARO DO TEMPO
Autor: Natália Bebiano da Providência
Prémio Literário Ferreira de Castro, 1997 – Literatura

1999

AUTOBIOGRAFIA
AUTOR: Rui Miguel Saramago
Prémio Literário Oliva Guerra, 1999

2000
UM TRIÂNGULO NO INFINITO
AUTOR: Teresa Mascarenhas
Prémio Literário de Sintra/Ferreira de Castro, 2000 – Ficção Narrativa

RUBENS E A COMPANHIA DO ESPANTO EM O CASO DA MITRA DESAPARECIDA
AUTOR: Garcia Barreto
Prémio Literário Infanto-Juvenil– Adolfo Simões Muller

2002
O BARCO DE CHOCOLATE
AUTOR: Cristina Norton
Prémio Literário de Sintra, 2002/Adolfo Simões Muller – Literatura Infanto-Juvenil

A NOITE DOS CARANGUEJOS
AUTOR: Ascênsio de Freitas
Prémio Literário de Sintra/Ferreira de Castro, 2002 – Ficção Narrativa

2004
A SIMBÓLICA DA CHUVA NO LIVRO DO DESASSOSSEGO
AUTOR: Maria Luísa Guerra
Prémio Literário Vergílio Ferreira, 2004 – Ensaio Literário

QUANDO AS ESTEVAS ENTRAM NO POEMA
AUTOR: Graça Pires
Prémio Literário Oliva Guerra, 2004 – Poesia

2005
LEILÃO DE PENSAMENTOS
AUTOR: Pedro Ludgero
Prémio Literário de Sintra / Ferreira de Castro, 2005 – Ficção Narrativa

2006

BAZAR ÍNTIMO
AUTOR: António Augusto Menano
Prémio Literário de Sintra/Oliva Guerra, 2006 – Poesia

2008
CONTOS DE JANELA
AUTOR: Eugénio Roda
Prémio Literário Adolfo Simões Muller – Ensaio Literário

DA AUSÊNCIA À PROIBIÇÃO EM O VALE DA PAIXÃO DE LIDÍA JORGE
AUTOR: Maria de Lurdes Trilho
Prémio Literário Vergílio Ferreira, 2008 – Ensaio Literário

DOZE CANTOS DO MUNDO
AUTOR: Amadeu Baptista
Prémio Literário de Sintra –Oliva Guerra /2008 – Poesia

NA VOZ DE UM NOME
AUTOR: Fernando Guimarães
Prémio Literário de Sintra – Ruy Belo/2008 – Obra Poética Publicada

14 de outubro de 2014

de Sarah Adamopoulos

 «Eles vinham em estado de graça, da praia. Bronzeados e em salmoura, saíram do carro e entraram no palácio frio. Que já era tarde, que as portas iam encerrar ao público, disse-lhes a funcionária, visivelmente fatigada., com o olhar num qualquer sítio perto do mar. Que era só aquele grupo de franceses terminarem a visita guiada pela directora do palácio, uma senhora importante, mulher de ex-ministro, amiga de secretários de Estado. Mas só depois dela mostrar aos franceses excursionistas todas as reproduções das peças do espólio do palácio, retratadas pelo pintor, por brilhante ideia e irrecusável encomenda dela-própria.»

Início de «O Palácio da Ajuda», in A Vida Alcatifada, Lisboa, Fenda, 1997, p. 17.

(lido na sessão de quarta-feira, 8 de Outubro de 2014)

13 de outubro de 2014

de Woody Allen

«Desfolhava eu uma revista enquanto esperava que o meu beagle Joseph K. saísse da sua sessão habitual de cinquenta minutos às terças-feiras com um analista de Park Avenue -- um veterinário junguiano que, a cinquenta dólares a sessão, trabalha corajosamente para o convencer que a papada não é uma desvantagem social -- quando topei com uma frase que captou a minha atenção como se fosse um aviso de um cheque sem cobertura.»

Início de «Sim, mas a máquina a vapor é capaz de fazer isto?», in Para Acabar de Vez com a Cultura (ed. original, 1966), tradução de Jorge Laitão Ramos,  4.ª edição, Amadora, Livraria Bertrand, 1981, p. 37.
(lido na sessão de quarta-feira, 9 de Outubro de 2014)



10 de outubro de 2014

BASTAM DUAS LINHAS, E ENTRAMOS NUM CONTINENTE NOVO, NUM LUGAR INÉDITO DO ESPAÇO LITERÁRIO" - Eduardo Prado Coelho




«Hoje o tempo não me enganou. Não se conhece um aragem na tarde. O ar queima como se fosse um bafo quente de lume. e não ar simples de respirar, como se a tarde não quisesse já morrer e começasse aqui a hora do calor. Não há nuvens, há riscos brancos, muito finos, desfiados de nuvens. E o céu, daqui, parece fresco, parece a água limpa de um açude. Penso: talvez o céu seja um mar grande de água doce e talvez a gente não ande debaixo do céu mas em cima dele; talvez a gente veja as coisas ao contrário e a terra seja como um céu e quando a gente morre, quando  a gente morre, talvez a gente caia e se afunde no céu.»


(Início do livro)

Boas leituras!

9 de outubro de 2014

de José Eduardo Agualusa

«Não gosto de aeroportos nem de aviões. Não é que tenha medo de voar. Tenho medo, isso sim, do aparato policial. Por outro lado incomoda-me a ideia de ficar sentado durante seis horas, às vezes mais, junto de um desconhecido.»

Início de «Os Mistérios do Mundo», Fronteiras Pedridas (1999), 5.ª edição, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2009, p.13.

(lido na sessão de quarta-feira, 8 de Outubro de 2014)

8 de outubro de 2014

NO MUSEU FERREIRA DE CASTRO ACONTECEM COISAS MUITO INTERESSANTES (TAMBÉM) ÀS QUARTAS-FEIRAS (18H00-20H00).

Hoje, por exemplo, entre outras boas iguarias, leu-se um conto de 


Eis um pequeno excerto:

"Adrianito, o eremita louco, tocou várias vezes o chocalho de avisos e dirigiu uma arenga a Dominico Fernández, o defensor da baliza de futebol da cidade: o defensor da cidade. 
- Que a cidade também não seja o primeiro túmulo da tua consciência! Olha bem para ela, Dominico Fernández, aí a tens: a cidade está aí, com os seus telhados, o seu sol e os seus choupos; com os seus sinos e os seus fornos de pão; com as suas searas de trigo de paciente lavoura, onde não se pode jogar futebol; com a sua verde veiga feminina e a porta militar que, essa sim, podes - e deves - defender jogando, como jogavam os Gregos nas suas guerras (ainda nobres, atléticas e engenhosas). Desce às portas da tua cidade, Dominico Fernández, e liberta-a das visitas (e até dos olhares) dos forasteiros..."
... ...
"Para que é que bordas pés-de-galo e olhos-de-formiga nas dobras da tua colcha nupcial, Mabelita Smith Catasueiro, se o teu prometido Dominico Fernández, o defensor da cidade, o mais provável é cair morto (ou, pelo menos, ferido) na defesa da cidade? - perguntavam-lhe, cofiando o bigode, as mais gordas e hediondas viúvas...."

do conto Retornelo do Defensor da Cidade ("Onze Contos de Futebol")

7 de outubro de 2014

o saco e o baraço

«Tratam-se com uma familiaridade imensa, cansada, caldeada em quase um século vivido lado a lado. Chamam-se nomes feios que não ofendem: maltês, estraga-albardas, freige-moscas. Acabam estes insultos por ser cumprimentos, segundo me capacito ao ver que nenhum deles reage desabridamente. Quando acontece aproximar-se o tio Domingos já quando o companheiro tem desdobrado a toalha das recordações, costuma o tio Zé das Candeias saudar-lhes a chegada com um imensamente terno "Olá, freguês da limonada!" O tio Domingos salva respeitosamente o adjunto e não se dá por achado. E uma vez ouvi o tio Zé despedir-se dele com um "Deus te dê anos de vida como de palmos tem a formiga!" Amicíssimas hostilidades.»

A. M. Pires Cabral, «O saco e o baraço», O Diabo Veio ao Enterro, Lisboa, Nova Nórdica, 1985, p. 20.
(lido na sessão de quarta-feira, 25 de Setembro de 2014)

directamente do galego


«Tiña eu once anos cando meu pai, que estaba na Arxentina, nos chamou cabo de si; e alá fomos embarcados, a miña nai e mais eu, num paquete alemán. E axiña de arribar a Bos Aires pillamos un tren que corría moito e logo outro tren que corría pouco e dispois un coche da cabalos que nos levou a tombos polo deserto da Pampa. Naquela soedade plantara meu pai unha casa para facerse rico, cavilando sempre nos eidos nativos; i era forza pecha-los ollos ó circio traballo en espera do retorno feliz.»

Alfonso R. Castelao, «O segredo», Retrincos e Un Ollo de Vidro, edição de Manuel Rosales, 2.ª edição, Vigo, Editorail Galaxia, 2002, p. 51
(lido na sessão de quarta-feira, 25 de Setembro de 2014)

Um lugar para os dias

Uma longa carta à pessoa amada, já falecida, que é, simultaneamente, um diário, uma revisitação memorialística e um balanço, com micro-ensaios e reflexões, pequenas narrativas de viagem, poesia -- um livro compósito, enfim, que reflecte os interesses da autora. Pintora de formação, foi na escrita que Irene Lucília Andrade encontrou um lugar para os seus dias, embora a aguda capacidade observadora e descritiva não deixe, creio, de ser tributária dessa aprendizagem de base.
As observações de carácter genericamente político (em especial os relativos aos fenómenos internacionais a que vimos assistindo nos últimos anos) são talvez o menos conseguido desta obra, embora traduzam a impotência do cidadão comum diante do momentoso de que (ainda) só somos testemunhas, em diferido e por vezes em directo; e, nesse especto, constitui um exemplo fidedigno do ambiente geral. O melhor, para mim: as evocações do passado, os pais, a infância, e a descoberta do mundo; e também os vários apontamentos, magníficos, sobre arte, em especial a pintura

1 de outubro de 2014

um parágrafo de Irene Lucília Andrade

«O Natal chegava e depois dele a Páscoa. E era nestas épocas que se operavam os abalos. A morte das galinhas e do peru, a morte do porco, eram acidentes monstruosos que lhe alteravam todo o entendimento do mundo. Ela procurava então o esconderijo amigo das suas sombras predilectas e fechava-se à estridência das azáfamas exteriores, porque o pequeno coração só se abria diante do esplendor das flores e das borboletas, o corpo aconchegava-se ao conforto macio dos brinquedos e os únicos ruído consentidos eram apenas os das suas fantasias.»

Um Lugar para os Dias, Lisboa, Chiado Editora, 2013, p. 105.

25 de setembro de 2014

Roteiro Castriano de Sintra


Ferreira de Castro, Jaime Cortesão e Luís da Câmara Reys
Sintra, Setembro de 1952

 O primeiro Roteiro Castriano de Sintra vai realizar-se no dia 26 de Setembro de 2014, no âmbito das Jornadas Europeias do Património.
O encontro terá lugar no pátio do Museu Ferreira de Castro (Rua Consiglieri Pedroso, 34), às 14,30 h. e terminará junto ao túmulo do escritor, na Serra de Sintra.
A acompanhar o percurso, leremos textos do próprio Ferreira de Castro, de Agustina Bessa Luís,  Francisco Costa, Vergílio Ferreira, Jaime Cortesão, José Gomes Ferreira, Luís de Oliveira Guimarães e Jorge Segurado, entre outros.
Recomenda-se calçado confortável.