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11 de março de 2016

imagens de Linhas Entre Nós - II

O conto, O Senhor de Pera e Bigode,

além de uma história singela, pode ser um pequeno roteiro turístico local, que canta as belezas e grandiosidade da Serra da Estrela.
Acompanhe, antes de mais, a caminhada longa e paciente que Ti Simão faz, acompanhado do Fiel, subindo a encosta íngreme, de Manteigas até às proximidades do Seixo Branco (no mapa, em linha laranja).












Passará pelo Observatório Meteorológico (popularmente, Casa das Gadanhas), pela Casa da Fraga
 (primeiro Sanatório experimental, por iniciativa do Dr. Sousa Martins), com a Fraga da Cruz a impor-se, de vários ângulos, à sua admiração  curiosa e aventureira.
Do seu cume, a vila parece despenhada lá no fundo, depois de um voo no vazio: arrepie-se.
Acompanhará o pastor a ver o despertar do dia, com o sol a refletir-se no fraguedo das Penhas Douradas em refulgências inesquecíveis.















Sentir-se-á esmagado pelo volume ciclópico do Frade e Freira, perdidos na serrania, a contemplarem a Fraga da Cruz, ali perto, e o Fragão do Corvo, já vizinho da Villa Alzira, onde Afonso Costa se resguarda da voragem da política, em busca de paz e, quem sabe, de algum arrependimento, sucumbindo à dúvida que inquieta.
Naquela noite, depois da conversa com o pastor, saiu de casa, vigiado pela Dourada, sua cadela de estimação, subiu ao Fragão do Corvo, e, esmagado pela calote de estrelas e a visão bruxuleante de Manteigas, lá no fundão do Zêzere, (disse a guardiã), chorou.

22 de janeiro de 2014

IMAGENS DE "A LÃ E A NEVE" últimas

Como conta o Romance, o tempo deu em ameaçar borrasca, o céu escureceu, e o Covão da Ametade transformou o seu ar de paraíso perdido em ameaça séria.
Uma névoa intensa envolveu os Cântaros (Os Cântaros, enormes moles magalíticas, são três: O Magro, o Gordo e o Raso).
Os dois primeiros, veem-se a coroar o Covão, na imagem ao lado esquerdo.
Logo depois da primeira chuva grossa, o "Zêzere Menino" que ali nasce, entre os Rochedos que ladeiam A Rua dos Mercadores, deu em engrossar a voz, proferindo ameaças (haviam de vê-lo, como já vi, como um mar largo, inundando todo o Covão, sem garganta suficiente para jorrar toda a água no Vale.)
Entretanto a montanha parecia estalar, como se os Cântaros ameaçassem esboroar-se e esmagar os homens e o rio, com uma raiva ciclópica.












(à esquerda, os três Cântaros; à direita, pormenor do Cântaro Magro).
O Covão da Ametade, fica (na foto) à esquerda do Cântaro Magro... lá bem no fundinho).

E, como mandam as regras da natureza, depois da tempestade vem a bonança.
O Tónio partiu para a Vila com a alma escura de preocupações, e o Horácio lá conseguiu avançar até à Nave de Santo António da Argenteira, onde encontrou outros pastores, menos solitários que ele... ou talvez mais, quem sabe?











Muitos mais pormenores poderia dar a conhecer: não quis, porém,  ultrapassar os limites máximos da arte de molestar
Homenageio os meus confrades do Clube de Leitura; o escritor Ferreira de Castro,como nosso patrono literário; a sua obra, A Lã e a Neve, pelo que é e porque se ocupou da ninha terra e da minha serra; Manteigas, berço que (há quem diga) escolhi; os que me antecederam e me foram construindo, mesmo sem saber que o faziam.

IMAGENS DE "A LÃ E A NEVE" 2


Horácio era pastor...
Se hoje conheço pastor que se desloca em moto-quatro, no tempo do Romance, era assim:
Será um destes o "Canholas" ou o "Marrafa"? Talvez... as famílias continuam em Manteigas e conservam ainda a alcunha.
O "Piloto", da raça famosa do Cão da Serra da Estrela é que continua a manter-se, sem adornos modernos.
De pelo longo ou pelo curto, os dois tipos caraterísticos da raça, com coleira de picos longos para proteger o pescoço, continua a ser o zelador do rebanho e companhia do pastor.

Quando a invernia deixava a serra sem pastos e sem condições de alimentar o gado, fazia-se a transumância para terras a sul, para a Idanha. "Foi para a Idanha" era expressão comum durante a minha meninice e juventude.
Era assim um rebanho em transumância... talvez um destes homens seja o "nosso" Horácio.
Na Vila de Manteigas estabeleceram-se três designações sócio-económicas. Os Corropios que viviam da agricultura e pastorícia, geralmente sem bens próprios, ou com pequenas courelas e meia dúzia de cabeças de gado. Os Cardinchas que eram os assalariados das fábricas e dos engenhos. Os Cães-Grandes onde estavam englobados os industriais, os donos de muitas terras ou de gado e (por alguma forma) os ricos.
No Romance aparecem claramente vários Corropios e Cardinchas. Cães-Grandes, seriam o Valadares (?) e Vasco da Gama Sotomayor (que julgo ser, na realidade, Francisco Esteves Gaspar de Carvalho, industrial e dono de terras empreendedor. Tem busto na Vila. Já eu era adulto, era ela ainda (de longe) o homem mais rico de Manteigas).
Há dois anos, José Paixão publicou um romance, Corropios, Cardinchas e Cães Grandes, onde retrata, com riqueza etnográfica, esta estrutura social.