20 de junho de 2021

Apresentação de RUA DA AMARGURA

Convido todos os visitantes deste blogue para a apresentação pública do meu livro RUA DA AMARGURA (episódios de uma comarca de província), evento cujos detalhes constam do "convite" anexo.

O evento será realizado numa sala muito ampla e arejada, assim se observando as recomendações da DGS para a prevenção da Covid19.

Desde já agradeço o interesse e a informação sobre a eventual presença.

Fernando Faria




15 de junho de 2021

o início de O RINOCERONTE DO REI




«Algum tempo após La Spezia, vendo ao longe os contornos da costa brasileira aproximando-se da nau, Océm recordou-se do rinoceronte.» Sérgio Luís de Carvalho, O Rinoceronte do rei, Lisboa, Clube do Autor, 2019, p. 9.

8 de junho de 2021

MANUEL MATOS NUNES, POETA

 


Manuel Matos Nunes (MMN) revelou-se como poeta. De sua autoria vieram a lume os Cadernos do Verão (Abril , 2021), sob a chancela da  On y va. Os seus textos deixaram assim o mundo virtual da sua formação como objecto na imaginação do autor. De facto, constituem-se como  obra pela sua coerência e na medida em que poemas e referências se interligam e se tornam indispensáveis.  
Constituem-na 3 secções antecedidas de uma epígrafe que serve de linha de leitura e que é uma écfrasis nocional. A primeira é designada por Delírios Ecfrásticos e o poeta explora a linguagem ecfrástica em várias situações pois procede à representação verbal de uma representação visual. Usa com frequência a referencialidade genérica na medida em que são observadas outras características para além da representação pura, como, por exemplo a personalidade, Fui Narciso nos auto-retratos , pintor/de mineiros e camponeses(...), Van Gogh na noite estrelada sobre o Ródano (pg 37). Poema deslocada para outra secção por decisão do autor.

        Quanto à segunda secção Figurações do Incomum ela revela uma das causas da Poesia: a representação do incompreensível, do imaterial e do absurdo em todos os poemas e que são de certo modo uma das linhas de conduta do livro, e perante a admiração geral das instituições,/abandonou tudo, partindo não se sabe para onde/em demanda de um peixe fóssil, o coelacanto. (KZ,funcionário das Finanças) pg.27. 

Quanto à terceira secção que nomeia a obra o autor partilha uma série de emoções e experiências vividas em várias geografias e situações sendo de assinalar a oscilação da forma , de ritmos e cor que fazem deste um livro de imagens. Gostei particularmente de A agressiva razão do vazio, pela amargura: saber que já não se senta ninguém/no sofá da sala, onde os livros/se acomodam hoje. pg. 60. Livro de poesia promissor no qual MMN revela a sua Cultura que nos tem transmitido ao longo dos anos e a sua imensa febre de conhecimento em busca de perfeição.             

                        

4 de junho de 2021

BOMBAIM. (A desumanidade...)

"Ao amanhecer de um dia no fim de Julho, Sunil encontrou um apanhador de lixo caído na lama no cruzamento onde a rua de terra de Annawadi se encontrava com a grande estrada do aeroporto. Sunil conhecia mal o velho; ele trabalhava muito e dormia à porta do mercado de peixe de Marol, a cerca de 800 metros dali. A perna do homem estava esmagada e ensanguentada e ele pedia ajuda aos transeuntes. Sunil deduziu que ele fora atropelado por um carro. Alguns motoristas não se preocupavam muito em desviar-se dos apanhadores de lixo que esquadrinhavam as bermas das estradas.

Sunil teve demasiado medo de ir à esquadra da polícia pedir uma ambulância, especialmente depois do que se dizia que acontecera a Abdul. Em vez disso, correu para o campo de batalha dos contentores de lixo da Estrada da Carga, na esperança de que um adulto tivesse coragem de ir à esquadra. Milhares de pessoas passavam por ali todas as manhãs.

Duas horas depois, quando Rahul saiu de Annawadi para ir para a escola, o ferido pedia água.

(... ... )

Quando Zehrunisa passou por ali uma hora depois, o apanhador de lixo gritava com dores. Ela achou que a perna dele tinha um aspecto horrível, mas ia levar comida e medicamentos ao marido, que também estava com um aspecto horrível do outro lado da cidade, na prisão de Arthur Road.

(... ...)

Quando Rahul e o irmão voltaram da escola no princípio da tarde, o apanhador de lixo ferido estava deitado, quieto, a gemer baixinho. Às 14h30, um homem do Shiv Sena fez um telefonema para um amigo na esquadra da polícia de Sahar sobre um cadáver que estava a perturbar as crianças pequenas. Às 16 horas, os guardas chamaram outros apanhadores de lixo para carregarem o corpo para dentro de uma carrinha da polícia, par não apanharem as doenças que toda a gente sabia que os apanhadores de lixo tinham."


(sem dúvida, um dos livros mais inquietantes que já li.)