«Fato branco, engomado, luzidio, do melhor H.J. que teciam as fábricas inglesas, o senhor Balbino, com um chapéu de palha a envolver-lhe em sombra metade do corpo alto e seco, entrou na "Flor da Amazónia" mais rabioso do que nunca.» Ferreira de Castro, A Selva (1930), 42.ª ed., Lisboa, Cavalo de Ferro, p. 27.
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24 de maio de 2023
23 de março de 2020
Uma leitura de 100 CARTAS A FERREIRA DE CASTRO
Há muito que um livro não me obrigava a trabalhar tanto: porque me agarrou, porque me informou e ensinou, porque me levou a conhecer pensadores de ideologias libertárias, que aprendi com Fernando Biencard Raposo, homem de teoria e ação daqueles tempos (quem sabe se conhecido de alguns dos literatos referidos no livro), pelo panorama geral da intelectualidade portuguesa dos primeiros quarteis do século XX, pelo testemunho político subjacente a muitas cartas, e como manancial do que designamos por cultura geral.
E isto, graças ao trabalho excelente do nosso "abade entre confrades", Ricardo Alves. Bem haja.
Em sessão discutida, não imaginam o que me teriam de ouvir; nestas circunstâncias de confinamento (a palavra é quase tétrica), vou "morigerar", seguindo bons conselhos sussurrados... aos olhos. Assim, deixo apenas referências ao que me despertou mais a atenção:
Na página 8, a referência a Raul Brandão. Na 22, a confissão dorida que brota na linha 3. Na 32, a sova a Júlio Dantas. Na 70, o tom, entre coloquial e urdido, com finalidade clara, de Tomás Ribeiro Colaço. Na 98, quando ... «Em 1940, decidi escrever um romance...». Na 104, o "epitáfio" a Guerra Junqueiro. Na 109, a Referência a Rocha Martins. Na 128, a mensagem de apoio a Norton de Matos. Na 149, o testemunho genuíno de Maria Lamas. Na 145, em Referência, o que escreve Armindo Rodrigues. Na 171, o que António José Saraiva diz de Ferreira de Castro. Na 178, a carta de Maria Archer. Na 204, a carta de Óscar Lopes, e na 210, a de António Álvaro Dória, além das palavras tumulares de Jorge Segurado. Na 225, o apelo de Virgínia Moura e o que está subjacente. Finalmente, da página 228, o texto que se inicia com «Quando há meio século entrámos no túnel...» e termina «... a chorar com a alegria que só os velhos sabem sentir.», nas palavras de José Gomes Ferreira.
Por fim, um desafio ao nosso Ricardo: fiz o levantamento de todas as obras referidas neste livro, com edições com mais de 70 anos; como princípio geral, livres para divulgação pública (várias já o estão, aliás). Muitas delas, no espólio do Museu Ferreira de Castro. Porque não proceder à sua digitalização para que, ressuscitadas, possam voltar a ser lidas, homenageando quem as escreveu? E mesmo outras que, não existindo no Museu, a que se pudesse aceder. Se o museu não pudesse carregar esse acervo, eu disponibilizo-me para ajudar a encaminhar os ficheiros para local digital adequado, e a divulgá-los em plataforma do maior crédito. No entanto, já comecei a ver quais deles estão já disponíveis para evitar duplicações.
... Eu sei: só as pessoas muito ocupadas têm tempo para empreender novas coisas.
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5 de setembro de 2017
A GUERRA NÃO TEM ROSTO DE MULHER - Notas de leitura
- querer devorar o livro, mas, ao contrário de outros que ficam no palato como um vinho bom quando o estilo é superior, ou se debicam continuamente como um petisco num fim de tarde de praia, sem querer nem saber como parar a leitura, querer e não querer que esta acabe, tal a pressão psicológica a que somos sujeitos;
- testemunho indirecto da saga da mulher soviética de armas (e outros artefactos) na mão, enfrentando o invasor germânico, uma miríade de histórias pessoais e contraditórias, tendo por comum pano de fundo a bestialidade da guerra e sofrimento generalizado. Por vezes, uma centelha de humanidade, o milagre da humanidade no meio do inferno que os homens engendram;
- A Guerra não Tem Rosto de Mulher (1985), de Svetlana Alexievich pertence àquela categoria de obras que nos retratam cruamente, como realmente podemos ser em situações-limite. No testemunho pode emparceirar com Se Isto É um Homem (1947), de Primo Levi, ou O Arquipélago Gulag (1973), de Alexander Soljenitsin; em ficção, podemos verificar uma clima opressivo correspondente em narrativas de inspiração autobiográfica, como A Oeste Nada de Novo (1929), de Erich Maria Remarque, ou A Selva (1930), de Ferreira de Castro, ou ainda a desesperança sórdida da Viagem ao Fim da Noite (1932), de Céline;
- forma superior de jornalismo, é já literatura, uma literatura para a História.
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