Por conselho de gurus, no nosso CL, mergulhei na leitura de PARA SEMPRE do meu vizinho Virgílio Ferreira. Um mergulho, sublinho. Mas vou ficar pelas margens.
Um dos personagens, recorrentemente invocado, é "o padre Parente", e é a partir dele que venho partilhar...
Escreve o autor: «... um homem fardado na plataforma, tinha uma corneta, seria o chefe? Nós olhámo-lo e subitamente, que estranho. Era o dente saído, o olho azul, o jeito de erguer de lado a cabeça, tudo. Tia Joana não aguentou mais. Dirigiu-se ao homem, nós atrás:
- O senhor desculpe. Mas é alguma coisa ao senhor padre Parente?
- Sou filho.
Tia Joana varada.»
Ora, por esta altura, se, em Manteigas, alguém tivesse perguntado a Ana (que o povo complementara com a alcunha de Parente), "A senhora desculpe. Mas é alguma coisa ao senhor padre Parente?", a resposta, talvez encabulada... ou talvez não, teria sido "Sou filha".
Coincidência?!
Padre António de Jesus Hipólito Parente, pároco de Melo, que Virgílio relembra como músico qualificado e devotado, era irmão de padre Joaquim Dias Parente, excelente músico e intérprete, que paroquiava em Manteigas, freguesia de Santa Maria, onde me batizou.
Genialidades semelhantes, como vemos.
Com o irmão José, farmacêutico na Covilhã, outro génio notado em guitarra, deram concertos em Melo (até para o bispo, em visita), terra de Virgílio Ferreira, e em Manteigas, minha terra.
O padre Joaquim tocou mesmo em Roma, perante Pio XI, que se comoveu (cito).
Para não me alongar, além de referir que este Pe. Joaquim foi convertido em "padre Barradas", por Ferreira de Castro, em A Lã e a Neve, e que eram família de oito irmãos, uma delas, Maria do Rosário, também personagem castriana, falarei apenas de mais uma história... de padres.
O padre Pedro da Fonseca, meu professor de português e literatura, foi colega de Virgílio Ferreira no seminário do Fundão, e guarda dele a mesma visão tenebrosa do nosso autor. Defensor acérrimo da abolição do celibato obrigatório, não teve a coragem, por causa do amor acrisolado à mãe, de seguir o exemplo do colega, dois anos mais velho. Viveu amargurado toda a vida. Ponto.
Referências: Fotografia dos irmãos Parente, com a mãe e uma personagem não identificada.
Deixo ainda, pelo interesse, uma ligação sobre os padres Parente:
http://guitarradecoimbra4.blogspot.com/2014/10/padre-joaquim-dias-parente.html e duas relembrando o padre Pedro da Fonseca.
https://acurvadoslivros.blogspot.com/2012/01/pedro-da-fonseca-um-escritor.html e http://pedrofonseca1918.blogspot.com (textos em via de conversão em livros)
Que boa tirada, Zé Serra!
ResponderEliminarPelos vistos essa generosa e bem parecida ninhada de Parentes, onde parece que um dos catraios já enverga veste talar, era cheia de talento para a música. Bendita matriarca (por onde andaria o varão?)!
Apraz-me, outrossim, (re)constatar que a sua Manteigas era alfobre cultural e fonte de inspiração para os criativos literários! E o Zé sempre por perto!
Volte sempre!
Acabei por deixar a meio a informação sobre "Manteigas, fonte de inspiração". Deixo mais algumas referências:
EliminarJosé David Lucas Baptista (https://alpha.sib.uc.pt/?q=taxonomy/term/29057); José Lucas Baptista Duarte (https://xdzelrhx6v8gkvmzd02nqg-on.drv.tw/www.joraga.net/gentedemanteigas/pags/005_BIBLIO_livrosEautores_004_JLucasBDuarte.htm); José Duarte Saraiva (https://europresseditora.pt/pa_autor/jose-duarte-saraiva/); José Paixão (https://www.wook.pt/livro/corropios-cardinchas-e-caes-grandes-jose-paixao/13977768); João Martins; e sincera-mente, se um escritor que conheço, Fernando Faria, conhecesse Manteigas como eu conheço, tenho a certeza, também se inspiraria para mais um livro de escrita primorosa, como ele costuma escrever.
Fiquei a gostar deste Parentes!
ResponderEliminar... para quem não gosta de padres!!!
EliminarMúsica? Conhece o cântico Santos Anjos e Arcanjos (Divina Eucaristia), que se cantou por todo o mundo? É do padre Joaquim D. Parente.
ResponderEliminarO varão? Sei lá se não seria o fotógrafo.
Manteigas, fonte de inspiração? Então a A Lã e a Neve, junte as referências nos Diários de Miguel Torga; um escritor delicioso, o médico João Isabel (que originou um Prémio Literário Anual https://cm-manteigas.pt/agenda-de-eventos/21-a-edicao-do-concurso-literario-premio-dr-joao-isabel/); Manuel Ferreira da Silva (http://www.flordelis.pt/noticia.php?cod_noticia=978) ou (https://www.wook.pt/autor/manuel-ferreira-da-silva/9074), por exemplo; António Leitão (https://cm-manteigas.pt/casa-do-tempo/), entre outros... ah! e um candidato a rabiscador J.A.M.S. ...
Eu cantei, ao lado da minha mãe, na missa. Tinha ainda a voz branca. Depois, remeteu-se ao escuro do arquivo morto. Curiosamente, ainda me consigo lembrar da música e letra, de cabo a rabo.
ResponderEliminarO cântico, no âmbito religioso, é, de facto excelente.
ResponderEliminarAproveito para usar de justiça, referindo ainda Nataniel Lopes da Rosa (https://www.chiadobooks.com/autores/nataniel-lopes-da-rosa); António Serra Correia (https://www.sitiodolivro.pt/pt/autor/antonio-serra-correia/44253); Pedro da Fonseca, no livro Ao Encontro do Passado e outros; António de Carvalho Lucas... e mais. Uma terra tão pequenina - julgo que é o concelho mais pequeno do país - ter tanta gente a escrever sobre ela, é porque é mesmo inspiradora.
O Padre António de Jesus Hipólito Parente foi pároco de Aldeia do Carvalho (Covilhã), no final do século XIX, terra imortalizada no romance a Lã e a Neve de Ferreira de Castro, foi também fundador há mais de um século da Filarmónica Recreativa Carvalhense.
ResponderEliminarEngraçado (ou talvez não...): Dei com este 'post' aqui no histórico ao lado e, ao abri-lo, achei-lhe a graça e novidade de uma primeira leitura. Depois, verifiquei que o 'post' era de 2000. Continuei a pensar, que engraçado, não reparei, na altura... E não é que, percorrendo os comentários 'da época', encontrei 2 ou três da minha genuína lavra?... Está bonito...
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