8 de abril de 2020

prosa e poesia, a propósito de uma epígrafe de T. S. Eliot

A epígrafe deste volume de contos de Ruben A., Cores (1.ª edição, 1960), é um excerto dos ensaios de T. S. Eliot sobre poesia, fragmento cuja exegese só por si daria um livro. Eliot defende o equilíbrio e a musicalidade na estrutura interna de um poema através da modulação da forma, da intensidade e emoção que transmite, terminando com a ideia de que nenhum poeta poderá produzir um longo poema digno desse nome se não for um mestre da prosa. Ruben A. (nome literário do historiador Ruben Andresen Leitão) é um mestre da escrita, cada palavra é necessária no preciso lugar em que foi empregue. Isto para dizer que a grande prosa deve ser sempre servida por um carácter poético que a torne pelo menos encantatória aos olhos que no momento da leitura exercem também função "auditiva", contrariando a oposição simplista entre texto poético e texto prosaico.

4 comentários:

  1. Sim, mas já no Baudelaire d´ “O Spleen de Paris” havia essa indistinção entre poesia e prosa. E noutros igualmente. Alberto Caeiro, esplêndido poeta que Pessoa matou de tuberculose em 1915, escreveu: «Por mim, escrevo a prosa dos meus versos / E fico contente».

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    1. Toda a razão, meu caro! No entanto, ambos poetas; eu pensava nos romancistas, nos prosadores.

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  2. Caro Sr R, estou de acordo com a generalidade das suas observações. Recordo-me que na minha geração, em 70, esse foi um debate muito aceso quando entramos em duelo com o versilibrismo. A expressões " poema em prosa" e "prosa poética" eram frequentes na época ...e no entanto havia muita gente atenta ao Sr Eliot que era candeia que ia à frente. Mas, o Sr. M.N. tem toda a razão. Há uma série de textos de "Le spleen ..." que vão no sentido dessa "indistinção" eu diria até penso que mais apropriado se me permitem, dessa tensão entre poesia e prosa até pela estrutura usando a divisão em parágrafos: " il n'est pas d'objet plus profond, plus mystérieux, plus fécond, plus ténébreux, plus éblouissant qu'une fenêtre éclairée d'une chandelle" (Les Fenêtres, Le Spleen de Paris, CB).

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    1. Ora viva, seja bem aparecido. Se acordo, pois claro, nem poderia deixar de ser, com os confrades. Mas volto a insistir: a grande prosa, e é nela que estou a pensar, deve conter as características que louvamos na poesia: o ritmo, a musicalidade, a consistência das imagens.
      Aguardamos postagens!

      Terei uma surpresa para hoje, que anunciarei.

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