24 de outubro de 2023

POESIA EM LÍNGUA PORTUGUESA, século XX (17)

 

AS PEQUENINAS COISAS

 

São elas, as pequeninas coisas.

Nos portos que toquei, por música,

no estribilho agridoce em que sempre

me põem as danças, elas lá estão,

as graciosas,

mas trazendo pela mão

rosas blindadas por um azeite feroz.

 

Abrem-se sussurram

com lâminas fininhas

entalam-nos entre o peso dos dias.

Mas elas, as pequeninas coisas,

bem pouco se parecem com a política

ou com essa gramática que se usa agora

enquanto se espera pelo almoço.

 

Eu falo delas

das que roçam o que têm

por um antigo e infelicíssimo modo de chorar.

 

ARMANDO DA SILVA CARVALHO, O Comércio dos Nervos (1968)



11 comentários:

  1. Sim, isto é outra música. Um dos meus poetas, e também cá canta.

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    1. PS - Já só faltam 30, a manter-se o desiderato.
      Abraço

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    2. Sim, tenho a lista feita para os 47. Há alguns poetas de cronologia mais recuada que serão recuperados.

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    3. Quando você terminar, aperto com a minha periodicidade.

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  2. Perante a raridade dos poemas e poetas aqui representados pelos nossos confrades - que fizeram agitar o meu baú do que ficou um dia por ler e fruir- deveriam figurar estes trabalhos numa colecção em suporte de papel, porque não com a chancela do Club de Leitura.
    Vamos pensar nisso? Abraço muito comovido.

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    1. Óptima ideia, mas só exequível com autores em domínio público, por causa dos royalties... Ainda bem que está a gostar. Novoa braço

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  3. Estava a pensarnuma edição do tipo do livrinho "abecerragem" que publicou nos Livros do Estoril em 2011. Pelo menos isso...

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  4. Acho que deveriam pensar os dois em publicar uma antologia a duas mãos...olhe já lhe dei o nome " Antologia de Poesia Portuguesa a Duas Mãos". Pela raridade dos textos que vêm publicando e repescando nas poéticas referidas. Vâ lá...não me ponha a falar francês...

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