SALOMÉ
Insónia roxa. A luz a virgular-se em
medo,
Luz morta de luar, mais Alma do que a
lua…
Ela dança, ela range. A carne, álcool de
nua,
Alastra-se pra mim num espasmo de
segredo…
Tudo é capricho ao seu redor, em sombras
fátuas…
O aroma endoideceu, upou-se em cor,
quebrou…
Tenho frio… Alabastro!... A minh´Alma
parou…
E o seu corpo resvala a projectar
estátuas…
Ela chama-me em Íris. Nimba-se a
perder-me,
Golfa-me os seios nus, ecoa-me em
quebranto…
Timbres, elmos, punhais… A doida quer
morrer-me:
Mordura-se a chorar – há sexos no seu
pranto…
Ergo-me em som, oscilo, e parto, e vou
arder-me
Na boca imperial que humanizou um Santo…
MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO, Orpheu, nº 1, Janeiro-Fevereiro-Março de 1915
Para mim, o Sá-Carneiro é mesmo na poesia, Cesário + Nobre potenciados em século XX...
ResponderEliminarNunca tinha pensado em tal. Este poema, vejo-o mais como um despojo do simbolismo no curso estrénuo do modernismo. Mas que sei eu? Pode ser tudo isso e o seu contrário.
ResponderEliminarEm quase todas as palavras do poeta. Plagio, eu, “tantas vezes, vil”.
ResponderEliminarSalomé
Longe, o boémio projetado
Espasma de carne e de rua...
Alma-estátua, assombrado,
Não dança, nem range, insinua!
Exclama-se ponto, lua cheia,
Num céu de capricho aluado,
O boémio alastra a teia
Que me traz presa em todo o lado.
Resvala, insone, no tempo gasto,
Apodrece o corpo que não possui...
Segredo de cera e alabastro!
Fogo-fátuo de luz quebrado,
Fingindo paixão, o boémio flui
Em mim e morre decapitado.
10/10/2023
Publiquem os vossos poemas. Muito mais interessante do que copiar inteiramente os dos outros. Se gostarem, ótimo. Se não gostarem, ótimo.
ResponderEliminarFernanda Costa
Óptimo ou ótimo, that is the question.
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