CALAI
Calai os versos abstractos
E a mansidão dos olhos que têm os bois
pacatos.
Calai tanto, tanto espírito na terra,
E a cristianíssima paz que nos faz
guerra.
Calai, promessas de anjo, o céu sublime,
Quando as mãos, cheias de oiro, trazem
máscaras de crime.
Calai loas de amor às crianças
maltrapilhas
Que esses farrapos de alma não lhes
cobrem as virilhas.
Calai as lágrimas à beira dos enfermos:
Prefiro a solidão que é soluço nos
ermos.
Calai, palhinhas de Jesus, que sois o ai
de quem ama:
Paz na terra e no céu: ao cristão, ao
judeu, e à gentílica moirama.
Calai-vos, bêbedos aos bordos nas
estradas:
Para matar tristezas, Nossa Senhor das
Dores com suas sete espadas.
AFONSO DUARTE, Ossadas (1947)
É curioso, vinha a pensar nele -- sumido na voragem do tempo.
ResponderEliminarO poeta de Ereira (Montemor-o-Velho) que ´viveu` várias gerações de Coimbra. É personagem de ficção em "A Velha Casa", de Régio (3º volume do ciclo, se bem me lembro) e em "Fogo na Noite Escura", de Namora.
EliminarTambém consta da minha antologia.
EliminarFumo
ResponderEliminarLonge de ti são ermos os caminhos,
Longe de ti não há luar nem rosas,
Longe de ti há noites silenciosas,
Há dias sem calor, beirais sem ninhos!
Meus olhos são dois velhos pobrezinhos
Perdidos pelas noites invernosas...
Abertos, sonham mãos carinhosas,
Tuas mãos doces, plenas de carinhos!
Os dias são outonos: choram... choram...
Há crisântemos roxos que descoram...
Há murmúrios dolentes de segredos...
Invoco o nosso sonho! Estendo os braaaaços!
E ele é, ó meu Amor, pelos espaços,
Fumo leve que foge entre os meus dedos!...
Florbela Espanca
Livro de Soror Saudade
Mais uma vez, bem haja pela escolha. Lendo antologias assim, ainda me transformam a gostar de poesia.
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