EPITÁFIO
PARA UM POETA
As asas não
lhe cabem no caixão!
A farpela de
luto não condiz
Com seu ar
grave, mas, enfim, feliz;
A gravata e
o calçado também não.
Ponham-no
fora e dispam-lhe a farpela!
Descalcem-lhe
os sapatos de verniz!
Não vêem que
ele, nu, faz mais figura,
Como uma
pedra, ou uma estrela?
Pois
atirem-no assim à terra dura,
Ser-lhe-á
conforto:
Deixem-no
respirar ao menos morto!
JOSÉ RÉGIO, Filho do Homem (1961)
Grande começo -- alvíssaras!...
ResponderEliminarEu vou esperar pela sessão de sexta, e vai ser uma coisa diferente (mas poderia ser igual!)
Diria que se nota aqui o sentido dramático da poesia do Régio, não sei se concorda.
ResponderEliminarTalvez a excepcionalidade do poeta, acometida pela insolência da vulgaridade: «Deixem-no respirar ao menos morto!»
EliminarSim, um tópico muito regiano, e presencista também.
EliminarDeste gosto: penso o mesmo.
ResponderEliminarAdoro a vacuidade intelectual muito patente num hospital ou na morgue, cheia de rótulos no dedo grande do pé.
ResponderEliminarO Lobo Antunes, no alto da sua caneta de ouro, em meio hospitalar, reconheceu que não há nada mais humilhante do que o derrame dos nossos fluídos perante desconhecidos. Vivamos a vida com insolência positiva e não tenhamos medo de dar a nossa opinião fora da cassete social com medinho de não sermos aceites.