Não. Beijemo-nos, apenas.
Nesta agonia da tarde.
Guarda –
Para outro momento,
Teu viril corpo trigueiro.
O meu desejo não arde
E a convivência contigo
Modificou-me – sou outro…
A névoa da noite cai.
Já mal distingo a cor fulva
Dos teus cabelos – És lindo!
A morte
Devia ser
Uma vaga fantasia!
Dá-me o teu braço: – não ponhas
Esse desmaio na voz.
Sim, beijemo-nos, apenas!,
–
Que mais precisamos nós?
ANTÓNIO BOTTO, Canções (1921-1932)
Ora tomai lá do Botto.
ResponderEliminarAquilo é que foi! O Botto esteve quase na minha antologia, mas não com este poema. No entanto, também tenho para lá dois ou três poemas homoeróticos, em minha opinião bastante melhores que este. Depois me dirá.
EliminarO meu coração é um balde despejado. Como é que eu, agora, escrevo poemas de sol e de lua? Vou até ao Sobral e amo pelos dois ou dou-te Espanca? Só visto!
ResponderEliminarDeveras interessante, caro anónimo. Continue, de preferência com nome próprio.
EliminarO segundo "anónimo" sou eu -- Ricardo António Alves
EliminarÓ, a pressão de um nome quando nem eu sei quem sou.
EliminarPor mim pode sempre assinar como Senhora do Ó,. Se for homem, o Botto não leva a mal, como se depreende pela amostra junta.
Eliminarhttps://youtu.be/oRG2jlQWCsY?feature=shared
ResponderEliminarRetrato de António Botto
ResponderEliminarUm efebo cavalo
Uma nereide potro
O fálus ou o halo
És o outro és o outro!
És a grande diferença
De seres intermitente
Mar de mágoa presença
Dos deuses entre a gente.
És o Olimpo limpo
Pela água da fonte
O azulíneo limbo
Da linha do horizonte.
Um efebo cavalo
Uma nereide potro
O fálus ou o halo
És o outro és o outro!
É para além do polo
Magnético do cio
Teu desvio de Apolo
A tiritar de frio.
É para lá que vives
É para lá que morres
E cantando proíbes
Desesperando corres.
Um efebo cavalo
Uma nereide potro
O fálus ou o halo
És o outro és o outro!
És a simples fragata
Chamando o marinheiro
És a gota, és a gata
De puro corpo inteiro.
A menina varina
Sardinheira de Alfama
E às vezes a vagina
Que um homem tem na cama.
És o silvo o apito
O encoberto dos cais
És o mito és o grito
De quem não pode mais.
Um efebo cavalo
Uma nereide potro
O fálus ou o halo
És o outro és o outro!
Isto eu diria acaso ou isso ou isso
Se a palavra que temos nos chegasse
Para clamar poeta flor justiça
Como se amor, António, não bastasse!
J. C. Ary dos Santos
Começo a deduzir que, afinal, gosto de poesia... quando alguém competente me faz o favor de escolher o que vale a pena ler... ou então é mesmo: «gosto de alguns poemas...».
ResponderEliminarJá que aqui estou. «Ó» exclamativo é «Oh!»
Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és... Ditado.
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