12 de outubro de 2023

POESIA EM LÍNGUA PORTUGUESA, século XX (8)

 

Não. Beijemo-nos, apenas.

Nesta agonia da tarde.

 

Guarda –

Para outro momento,

Teu viril corpo trigueiro.

 

O meu desejo não arde

E a convivência contigo

Modificou-me – sou outro…

 

A névoa da noite cai.

 

Já mal distingo a cor fulva

Dos teus cabelos – És lindo!

 

A morte

Devia ser

Uma vaga fantasia!

 

Dá-me o teu braço: – não ponhas

Esse desmaio na voz.

 

Sim, beijemo-nos, apenas!,

  Que mais precisamos nós?

 

ANTÓNIO BOTTO, Canções (1921-1932)


11 comentários:

  1. Ora tomai lá do Botto.

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    1. Aquilo é que foi! O Botto esteve quase na minha antologia, mas não com este poema. No entanto, também tenho para lá dois ou três poemas homoeróticos, em minha opinião bastante melhores que este. Depois me dirá.

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  2. O meu coração é um balde despejado. Como é que eu, agora, escrevo poemas de sol e de lua? Vou até ao Sobral e amo pelos dois ou dou-te Espanca? Só visto!

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    1. Deveras interessante, caro anónimo. Continue, de preferência com nome próprio.

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    2. O segundo "anónimo" sou eu -- Ricardo António Alves

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    3. Ó, a pressão de um nome quando nem eu sei quem sou.

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    4. Por mim pode sempre assinar como Senhora do Ó,. Se for homem, o Botto não leva a mal, como se depreende pela amostra junta.

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  3. https://youtu.be/oRG2jlQWCsY?feature=shared

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  4. Retrato de António Botto

    Um efebo cavalo
    Uma nereide potro
    O fálus ou o halo
    És o outro és o outro!

    És a grande diferença
    De seres intermitente
    Mar de mágoa presença
    Dos deuses entre a gente.
    És o Olimpo limpo
    Pela água da fonte
    O azulíneo limbo
    Da linha do horizonte.

    Um efebo cavalo
    Uma nereide potro
    O fálus ou o halo
    És o outro és o outro!

    É para além do polo
    Magnético do cio
    Teu desvio de Apolo
    A tiritar de frio.

    É para lá que vives
    É para lá que morres
    E cantando proíbes
    Desesperando corres.

    Um efebo cavalo
    Uma nereide potro
    O fálus ou o halo
    És o outro és o outro!

    És a simples fragata
    Chamando o marinheiro
    És a gota, és a gata
    De puro corpo inteiro.
    A menina varina
    Sardinheira de Alfama
    E às vezes a vagina
    Que um homem tem na cama.

    És o silvo o apito
    O encoberto dos cais
    És o mito és o grito
    De quem não pode mais.

    Um efebo cavalo
    Uma nereide potro
    O fálus ou o halo
    És o outro és o outro!

    Isto eu diria acaso ou isso ou isso
    Se a palavra que temos nos chegasse
    Para clamar poeta flor justiça
    Como se amor, António, não bastasse!

    J. C. Ary dos Santos

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  5. Começo a deduzir que, afinal, gosto de poesia... quando alguém competente me faz o favor de escolher o que vale a pena ler... ou então é mesmo: «gosto de alguns poemas...».
    Já que aqui estou. «Ó» exclamativo é «Oh!»

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  6. Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és... Ditado.

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