O MENINO DE SUA MÃE
No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
- Duas, de lado a lado -,
Jaz morto, e arrefece.
Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.
Tão jovem! Que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino da sua mãe.»
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lha a mãe. Estava inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.
De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.
Lá longe, em casa, há a prece:
«Que volte cedo, e bem!»
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe.
Fernando Pessoa
(F. Faria)
Um início promissor...
ResponderEliminarAbraço
Ler isto: https://modernismo.pt/index.php/m/661-menino-de-sua-mae
ResponderEliminarExcelente reflexão.
EliminarQualquer exímio poeta habita a dobra, esse espaço de escrita que fixa temporariamente o movimento entre interior e exterior, presente e passado, criando um real não-real cheio de possibilidades e significados. Tão difícil de conseguir.
Obrigado, Manuel Nunes. Sábio e profundo comentário.
EliminarEste é dos que ficará por séculos, se a humanidade não evoluir para pior do que espero.
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