AO LONGE OS BARCOS DE FLORES
Só, incessante, um som de flauta chora,
Viúva, grácil, na escuridão tranquila,
– Perdida voz que de entre as mais se
exila,
– Festões de som dissimulando a hora.
Na orgia, ao longe, que em clarões
cintila
E os lábios, branca, do carmim desflora…
Só, incessante, um som de flauta chora,
Viúva, grácil, na escuridão tranquila.
E a orquestra? E os beijos? Tudo a
noite, fora
Cauta, detém. Só modulada trila
A flauta flébil… Quem há-de remi-la?
Quem sabe a dor que sem razão deplora?
Só, incessante, um som de flauta chora…
CAMILO PESSANHA, Clepsidra (1920)
Exactamente.
ResponderEliminarExactamente, sim. E ainda há aqueles versos: «Quem poluiu, quem rasgou os meus lençóis de linho, / Onde esperei morrer, - meus tão castos lençóis?» Ou então, o que também não é mau: «Eu vi a luz em um país perdido. / A minha alma é lânguida e inerme.», etc. Não vejo é o trabalho da restante confraria...
ResponderEliminarJá vai no sétimo poema da antologia. Faltam 40. Amanhã boto um de Luiza Neto Jorge.
ResponderEliminarOra bem. Eu mantenho a periodicidade semanal.
EliminarBoa! 101 poemas a ritmo semanal atira-nos para o fim do Verão de 2025. «Saudoso já deste Verão que vejo [tão distante!] / Lágrimas para as flores dele emprego», etc. -- Lá dizia o Ricardo Reis num dia em que andava triste com a Lídia... ou seria com a Neera? Já não me lembro. Com a Marcenda não era certamente....
EliminarAh! Amanhã já não avançarei com a Luiza Neto Jorge, fica mais para diante.
O Ricardo Reis era um árcade que se reconhecia.
EliminarAh!ah!ah! E pensarmos que Teófilo Braga chamava «árcade póstumo» ao Castilho...
EliminarA solidão pesa com o tamanho do infinito. Estar só pode ser o céu da mesma amplidão.
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