ARIANE
Ariane é um navio.
Tem mastros, velas e bandeiras à
proa,
E chegou num dia branco, frio,
A este rio Tejo de Lisboa.
Carregado de Sonho, fundeou
Dentro da claridade destas grades…
Cisne de todos, que se foi, voltou
Só para os olhos de quem tem
saudades…
Foram duas fragatas ver quem era
Um tal milagre assim: era um navio
Que se balança ali à minha espera
Entre gaivotas que se dão no rio.
Mas eu é que não pude ainda por meus
passos
Sair desta prisão em corpo inteiro,
E levantar a âncora, e cair nos
braços
De Ariane, o veleiro.
MIGUEL TORGA, Diário I (1941)
Não era flor que se cheirasse, o Torga; porém inegavelmente um grande poeta e um grande contista.
ResponderEliminarO poema, entre outras coisas, é admirável de ritmo; e sem ritmo dificilmente há poesia.
Grande poeta, sim. Poema escrito em Lisboa, a 1 de Janeiro de 1940, na Cadeia do Aljube. Lá o haviam encerrado os esbirros da mesa censória por causa de um volume de "A Criação do Mundo" de que não gostaram.
ResponderEliminarComo símbolo da prisão, está «fino». Já visitaram o Aljube? Lá está a referência ao Torga.
ResponderEliminar