O PORTUGAL FUTURO
O Portugal futuro é um país
aonde o puro pássaro é possível
e sobre o leito negro do asfalto da
estrada
as profundas crianças desenharão a giz
esse peixe da infância que vem na
enxurrada
e me parece que se chama sável
Mas desenhem elas o que desenharem
é essa a forma do meu país
e chamem elas o que lhe chamarem
Portugal será e lá serei feliz
Poderá ser pequeno como este
ter a oeste o mar e a Espanha a leste
tudo nele será novo desde os ramos
à raiz
À sombra dos plátanos as crianças
dançarão
e na avenida que houver à beira-mar
pode o tempo mudar será verão
Gostaria de ouvir as horas do relógio da
matriz
mas isso era o passado e podia ser duro
edificar sobre ele o Portugal futuro
RUY BELO, Homem de Palavra(s) (1970)
Fim da série.
ResponderEliminarFim, ao 47⁰? Ao menos, podias arrendondar...
EliminarEu expliquei num comentário a razão do agudo número: é uma homenagem ao ano de 1947 que tão claros espíritos deitou ao mundo :) :) :)
EliminarAh!Ah! Tenho ideia... Acho muito bem. Se calhar, vou-me unir à homenagem, filho que sou da mesma translação 🤪
EliminarA sua língua era a pátria portuguesa -- que tão mal o tratou, como é costume.
ResponderEliminarGrande fecho! (Também tenho o meu Belo, sim senhor.) Haverá segunda série?
Quem sabe? Talvez...
EliminarEntão, na sua absência, espaçarei menos as postagens.
EliminarParabéns Manuel. Terminaste a série da melhor forma. Esperemos que este país continue a ser possível sem monstruosidades e fantasmas.
ResponderEliminarObrigado, Laurindo, pelo comentário. Monstruosidades, pois... Se me pusesse a falar...
Eliminar«... o homem sonha... a obra nasce»... às vezes. J. A. Marcos Serra
ResponderEliminarHomem de Palavra(s) é apontado como sendo de 1969, embora o meu livrinho - exemplar do nº 9 dos Cadernos de Poesia das Publicações Dom Quixote - refira em "colofão" ter sido composto e impresso em Janeiro de 1970. Neste ano o comprei. O que queria dizer com isto é que é daqueles anos a visão de Ruy Belo sobre o Portugal futuro. Repare-se que é já um Portugal descolonizado: pequeno e com o mar a oeste e a Espanha a leste. Quem disse que os poetas não vêem as coisas antes de elas acontecerem?
ResponderEliminarE que fim de série, com Rui Belo 😊
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