21 de novembro de 2023

POEMAS IMORTAIS - UMA SELECÇÃO POSSÍVEL. IX

 

ÉCLOGA DE JANO E FRANCO (excerto)


Dizem que havia um pastor

antre Tejo e Odiana,

que era perdido de amor

per ua moça  Joana.

Joana patas guardava

pela ribeira do Tejo,

seu pai acerca morava,

e o pastor, de Alentejo

era, e Jano se chamava.


Quando as fomes grandes foram,

que Alentejo foi perdido, 

da aldeia que chamam o Terrão

foi este pastor fugido.

Levava um pouco de gado,

que lhe ficou doutro muito

que lhe morreu de cansado:

que Alentejo era enxuito

d'água e mui seco de prado.


Toda terra foi perdida;

no campo do Tejo só

achava o gado guarida:

ver Alentejo era um dó!

E Jano, para salvar

o gado que lhe ficou,

foi esta terra buscar;

e um cuidado levou,

outro foi ele lá achar.


O dia que ali chegou

com seu gado e com seu fato,

com tudo se agasalhou

em ua bicada de um mato.

E levando-o a pascer,

o outro dia, à ribeira,

Joana acertou de ir ver,

que se andava pela beira

do tejo a flores colher.


BERNARDIM RIBEIRO

6 comentários:

  1. Os pastores de Bernardim! Lembro-me é da história da menina e moça que foi levada de casa de seu pai para longes terras... E do episódio do rouxinol que tem tanto que se lhe diga.

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    1. Belo excerto muito bem escolhido. Bernardim que lemos mal abrimos os olhos para as antologias do ensino secundário.

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  2. Inefável Bernardim, um dos nossos "mistérios".

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    1. Penso que 'à pala' desta conversa vou finalmente ler a Menina e Moça...

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  3. Este é dos que está (já parcialmente) de cor. Gosto. J. A. Marcos Serrra

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