sida
aqueles que têm nome e nos telefonam
um dia emagrecem – partem
deixam-nos dobrados ao abandono
no interior duma dor inútil muda
e voraz
arquivamos o amor no abismo do tempo
e para lá da pele negra do desgosto
pressentimos vivo
o passageiro ardente das areias – o
viajante
que irradia um cheiro a violetas
nocturnas
acendemos então uma labareda nos dedos
acordamos trémulos confusos – a mão
queimada
junto ao coração
e mais nada se move na centrifugação
dos segundos – tudo nos falta
nem a vida nem o que dela resta nos
consola
a ausência fulgura na aurora das manhãs
e com o rosto ainda sujo de sono ouvimos
o rumor do corpo a encher-se de mágoa
assim guardamos as nuvens breves os
gestos
os invernos o repouso a sonolência
o vento
arrastando para longe as imagens difusas
daqueles que amámos e não voltaram
a telefonar
AL BERTO, Horto de Incêndio (1997)
Um poema trágico.
ResponderEliminarComo outros do autor.
ResponderEliminar