TENDO LIDO UMA CARTA ACERCA DE UM SEU
LIVRO DE POEMAS, QUE OFERECERA
Por que entristeço ao ler o que de meus
versos escrevem, se não é de mim
que escrevem?
Será que chora em mim o que meus versos
foram
antes de ser meus?
Por que pergunto, se já sei por quê?
Escuto longamente, leio, espero,
e o poema é voz de toda a gente, todos
eles, que,
não se tendo ouvido, não a sabem sua.
E vêm chorar em mim o coração traído,
a música perdida em distracções
urgentes,
umas palavras que ninguém falou.
Não entristeço, pois. Apenas sou
pergunta,
e, sendo eu, me esqueço ao perguntar.
5/1/1951
JORGE DE SENA, Post-Scriptum (edição póstuma)
Excelso.
ResponderEliminarSe «mistura de prosa e poesia», sim...
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