DA COSTA DE CASCAIS
Aqui, na orla do mar, as cruzes
são sinais de pescadores perdidos
no fundo, mortos, quando buscam
o sal da vida. Em vez de a sua força
fazer ceder a vaga sob o anzol,
é a força do mar ou a paixão da vida
- arquejante e morta -
que os puxa para um purgatório
de água revolta e de limos.
FIAMA HASSE PAIS BRANDÃO, As fábulas, 2002
Gosto muito desse livro da FiamaHPB. Também tenho um poema dela para postar.
ResponderEliminarNão li este livro, embora provavelmente já tenha lido alguns poemas dele, digo eu... Logo no primeiro verso, lembrei-me de Pessoa: «Aqui na orla da praia, mudo e contente do mar». Mas esta praia e este mar não são os de um poema subjectivo e metafísico, antes, como dizia Ruy Belo a propósito de uma das funções da poesia, um poema de dar voz àqueles que a não têm. Há naufrágios no mar, há naufrágios em terra...
ResponderEliminarReparoA agora na intensidade da "metáfora" cristã que aqui está. Atentemos nos substantivos, pescadores, mar, cruzes, purgatório,e, nas expressões "sal da vida" , que, nos remete para textos e personagens sagradas. Quanto à forma uma vez mais pode ser discutìvel. Para mim está no limite da composiçăo estrófica com o texto ou poema em prosa. Mas, foi assim que a autora se quis exprimir. Se pensarmos que este texto no âmbito do real é uma micronarrativa tb não está mal pensado... .
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