22 de novembro de 2023

TEM DIAS XII

 



DA COSTA DE CASCAIS


Aqui, na orla do mar, as cruzes

são sinais de pescadores perdidos

no fundo, mortos, quando buscam

o sal da vida. Em vez de a sua força

fazer ceder a vaga sob o anzol,

é a força do mar ou a paixão da vida

- arquejante e morta -

que os puxa para um purgatório

de água revolta e de limos.


FIAMA HASSE PAIS BRANDÃO, As fábulas, 2002

3 comentários:

  1. Gosto muito desse livro da FiamaHPB. Também tenho um poema dela para postar.

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  2. Não li este livro, embora provavelmente já tenha lido alguns poemas dele, digo eu... Logo no primeiro verso, lembrei-me de Pessoa: «Aqui na orla da praia, mudo e contente do mar». Mas esta praia e este mar não são os de um poema subjectivo e metafísico, antes, como dizia Ruy Belo a propósito de uma das funções da poesia, um poema de dar voz àqueles que a não têm. Há naufrágios no mar, há naufrágios em terra...

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  3. ReparoA agora na intensidade da "metáfora" cristã que aqui está. Atentemos nos substantivos, pescadores, mar, cruzes, purgatório,e, nas expressões "sal da vida" , que, nos remete para textos e personagens sagradas. Quanto à forma uma vez mais pode ser discutìvel. Para mim está no limite da composiçăo estrófica com o texto ou poema em prosa. Mas, foi assim que a autora se quis exprimir. Se pensarmos que este texto no âmbito do real é uma micronarrativa tb não está mal pensado... .

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