Saudoso já deste verão que vejo,
Lágrimas para as flores dele emprego
Na lembrança invertida
De quando hei-de perdê-las.
Transpostos os portais irreparáveis
De cada ano, me antecipo a sombra
Em que hei-de errar, sem flores,
No abismo rumoroso.
E colho a rosa porque a sorte manda.
Marcenda, guardo-a; murche-se comigo
Antes que com a curva
Diurna da ampla terra.
RICARDO REIS, “Ode XVIII”, Athena, nº 1, Outubro de 1924
ResponderEliminarMagnífico.
Magnífica esta ode feita segundo regras clássicas. Para o caso de não terem reparado, chamo a atenção para o termo «marcenda» (antepenúltimo verso). O que é que vos diz?
ResponderEliminarFui ao Edge... mas assim não vale; como o poema não me comoveu, lera, mas não liguei. Perante o desafio da pergunta, lembrou-me «primavera»... mas não é.
EliminarEu leio-a como a ofertante da rosa. Dir-me-á.
EliminarQuem se lembra da personagem Marcenda de "O Ano da Morte de Ricardo Reis"?
EliminarLi quando saiu, reli há algum tempo o primeiro capítulo. Não sei se a rapariga no hotel já fora nomeada, creio que não, mas Marcenda até é um nome saramaguiano...
EliminarNome de pura invenção do Saramago. Só que na ode, Marcenda não é nome, mas expressão aportuguesada do verbo latino correspondente a "murchar". Latinórios era com o Reis, conhecedor de Horácio e outros que tais...
EliminarEm verdade, estas coisas é que me deixam comovido.
Suponho que se refira a estas homenagens meio escondidas, certo?
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