11 de novembro de 2023

TEM DIAS VI

 

Rentes que aves são...


Rentes que aves são o grito alucinado

deste inverno de carumas frias

roçando o fumo das leiras em fermento


gritos que aves rentes despedaçam

pelos ossos de brancura consumidos

deste frio que o inverno roça


aves que o espaço habita de viagem

de rumor secreto de olhar ferido


este é o inverno que vos dou

na pureza do sal e das carumas.



A. J. VIEIRA DE FREITAS, habitar o tempo, Cadernos do Círculo de Poesia,Moraes Editores, Lisboa, 1975.



[Natural da Madeira foi professor do ensino secundário, poeta, ensaísta e crítico. O seu espectro literário vai de Rilke a Octávio Paz. "Poemas limpos. Palavras-casulo. Sobre elas, (...)desce, por vezes, o pólen de Rilke, de Eugénio de Andrade", disse Jorge Listopad na Colóquio, 1977.].

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