nada os meus olhos deixarão na cinza
das vastas folhas envidraçadas: nem
o astrológico número das horas
autorizadas pela autoridade e a sua
penumbra.
a «penumbra da autoridade» vem vestida
de muitos horizontes com, aqui ou além,
um barco
de velas estilhaçadas, ou a capa de um
livro
de viagens na vitrina.
então o amor mistura-se com as coisas
breves,
os pássaros, o rumor dos alicates na
gaveta branca.
foi esta a sua história? esta canção
pertence-lhe?
a «greve» alourou-lhe as sobrancelhas?
estes olhos
têm o plástico ao contrário. e o ruído
das torneiras no balde, mesmo
à beira do precipício,
é um inconveniente que convém manter
sob vigilância.
ANTÓNIO FRANCO ALEXANDRE, Os Objectos Principais (1979)
Há poetas de que gosto, como é o caso do AFA, que não obstante me é difícil extrair um poema, provavelmente pela unidade que os livros dele apresentam -- pelo menos os que tenho, creio que dois: «Aracne» e «uma Fábula».
ResponderEliminarTenho lido pouco de António Franco Alexandre e longe de mim a pretensão de apresentar este poema como representativo de uma obra, digamos, como um texto de antologia. Os poemas que aqui vou pondo são apenas quadros isolados de leituras que tenho feito. Nalguns casos, apenas a prova de que sei da existência do poeta.
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