Pergunto
Pergunto pelos braços
que neste campo
eram barcos e trigo,
sémen e ovários.
- Longe, despertam,
respiram, cantam.
Pergunto pelas velas
que nesta praia
eram fome que ao vento
ganhava asas.
- Longe, iluminam
diferentes águas.
Pergunto pelo canto
que nas searas
não era esta cinza
de acerbos cardos.
- Longe, celebra
a nossa raiva.
Pergunto pelos corpos
que nestas camas
se lavravam até
florir crianças.
-Amam, germinam.
Mas tão distantes !
Serão as naves
do novo sangue?
JOSÉ BENTO, in Movimento (cadernos de poesia & crítica) , Funchal, 1973.
Inédito de José Bento incluído no n⁰1 e único de Movimento, revista de poesia & crítica sob a coordenação de A.J.Vieira de Freitas. 8 poetas completam esta edição, a saber: Eugénio de Andrade, António Ramos Rosa, Pedro Tamen, José Bento, A. J. Vieira de Freitas, José Agostinho Baptista, José António Gonçalves, e, Gualdino Rodrigues.
ResponderEliminarRevista , que, em ano crítico por natureza veio trazer um folego novo
aos mornos e caricatos ares locais ainda sob a moribunda e falaciosa inspiração de 50 projectando a poesia para novos tempos sem perca das autênticas referências. Como escrevia V. Freitas "plantar uma flor no deserto".
Grande elenco (não conheço os últimos dois). Bom poema do José Bento, nesse tempo crepuscular e heróico, o de plantar flores no deserto.
ResponderEliminarLi três vezes. Continuo dividido...
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