MEDITAÇÃO DO DUQUE DE GANDIA SOBRE A
MORTE DE ISABEL DE PORTUGAL
Nunca mais
A tua face será pura limpa e viva
Nem o teu andar como onda fugitiva
Se poderá nos passos do tempo tecer.
E nunca mais darei ao tempo a minha
vida.
Nunca mais servirei senhor que possa
morrer.
A luz da tarde mostra-me os destroços
Do teu ser. Em breve a podridão
Beberá os teus olhos e os teus ossos
Tomando a tua mão na sua mão.
Nunca mais amarei quem não possa viver
Sempre,
Porque eu amei como se fossem eternos
A glória, a luz e o brilho do teu ser,
Amei-te em verdade e transparência
E nem sequer me resta a tua ausência,
És um rosto de nojo e negação
E eu fecho os olhos para não te ver.
Nunca mais servirei senhor que possa
morrer.
Nunca mais te darei o tempo puro
Que em dias demorados eu teci
Pois o tempo já não regressa a ti
E assim eu não regresso e não procuro
O deus que sem esperança te pedi.
SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN, Mar Novo (1958)
Gosto da Sophia, além disso também a tenho na minha lista. Foi excluída dum certo cânone que uma editora pretensiosa e uns acólitos se arrogaram estabelecer. Meteram água, como era inevitável.
ResponderEliminarSó falta um...
Que belo o poema. Que emocionante a declamação! Um luxo de post.
ResponderEliminarIsabel de Portugal (Lisboa, 1503 - Toledo, 1539), filha do nosso rei D. Manuel I e esposa do imperador Carlos V.
ResponderEliminar«Eloquente exemplo de elegia fúnebre» e «um dos mais altos momentos no exigentíssimo percurso de Sophia de Mello Breyner Andresen» - diz Fernando J. B. Martinho em prefácio a edição recente da obra (Assírio Alvim, 2013).
Sim, com data de amanhã vou publicar o último da série: "O Portugal futuro", de Ruy Belo. Depois dos heterónimos pessoanos, fecho com uma quádrupla chave de ouro (Eugénio, Herberto, Sophia, Belo).
O Fernando Martinho é outra louça.
EliminarGosto muito de Sophia. Quase a chegar Dezembro e com ele, Dual 😊
ResponderEliminarDeuses? No mundo? Só servirão para arrependimento. J. A. Marcos Serra
ResponderEliminar