15 de novembro de 2023

25 poemas passados para português - #2

 

Ah, não chores por mim quando eu morrer,

quando soar o dobre magoado

dizendo ao mundo vil que, fatigado,

com vilíssimos vermes fui viver.

Lendo meus versos, deves esquecer

a mão amiga que lhes deu traslado;

bem doce é reflorir num peito amado

mas torna-se cruel se o faz sofrer.

Não, se vires esta rima dolorida

quando a terra em seus braços me retome,

que finde o teu amor co’a minha vida,

que nem recordes o meu póprio nome –

Pois se o mundo te vê na dor absorto,

inda zomba de mim depois de morto


William Shakespeare (Strattford-upon-Avon, 1564-1616)

[versão de Luís Cardim (Cascais, 1879 - Porto, 1958),  Horas de Fuga (1952)]


No longer mourn for me when I am dead,

Than you shall hear the surly sullen bell

Give warning to the world that I am fled

From this vile world, with vilest worms to dwell:

Nay, if you read this line, remember not

The hand that writ it; for I love you so,

That I in your sweet thoughts would be forgot,

If thinking on me then you should make you woe.

O, if (I say) you look upon this verse,

When I perhaps compounded am with clay,

Do not so much as my poor name rehearse;

But let you love even with my life decay;

Leste the wise world should look into your moan,

And mock you with me after I am gone.[i]



[i] The Works of William Shakspeare, London, Frederick Warne and Co., s.d., p. 1092.

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