QUALQUER COISA DE INTERMÉDIO
Eu não sou um
nem outro:
Sou qualquer coisa de intermédio
M. de Sá-Carneiro
Se eu fosse o outro,
o do chapéu macio e do bigode
eternizado em cúbico arremedo,
angústia dividida em tantas partes
e óculos redondos,
podia-te contar eu guardador e sonhos
Se eu fosse o outro,
o delicado e bêbado génio de nós todos,
o que amou estranho e sabia dizer
coisas enormes numa pequena língua
e fraco império,
se eu fosse aquele inteiro
ditado de exageros e exclusões,
falava-te de tudo em ingleses versos
E mesmo se não foi ele quem disse
(e podia até ser, que eram amigos
e o século a nascer arrepiava como já
não
o fim) há razão nessa história do pilar
e do tédio a escorrer de um
para o outro
ANA LUÍSA AMARAL, Minha Senhora de Quê (1990)
Na minha edição da poesia de MS-C (Edições Ática), o poema "7" de INDÍCIOS DE OIRO vem assim:
ResponderEliminar«Eu não sou eu nem sou o outro,
«Sou qualquer coisa de intermédio:
« Pilar da ponte de tédio
«Que vai de mim para o Outro.»
Há algumas diferenças no 1º verso citado por ALA.
Gosto muito da sua poesia. Também consta da minha lista.
ResponderEliminarExcelente poema.
ResponderEliminarGostaria de saber a quem se refere (parece haver um alvo). Não consegui evitar que me lembrasse de Fernando Pessoa.
ResponderEliminarO 'do chapéu macio e do bigode', Mário; o 'delicado e bêbado génio', o Fernando. Penso eu de que...
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