4 de novembro de 2023

101 poemas portugueses - #6


À NOITE DE NATAL

Era noite de inverno longa e fria
Cobria-se de neve o verde prado;
O rio se detinha congelado,
Mudava a folha cor, que ter soía.

Quando nas palhas duma estrebaria,
Entre dois animais brutos lançado,
Sem ter outro lugar no povoado
O Menino Jesus pobre jazia.

-- Meu amor, meu amor, porque quereis
(Dizia Sua Mãe) nesta aspereza
Acrescentar-me as dores que passais?

Aqui nestes meus braços estareis;
Que, se Vos força amor sofrer crueza,
O meu não pode agora sofrer mais.


Frei Agostinho da Cruz (Ponte da Barca, 1540 - Setúbal, 1619)
Poesias Selectas (edição de Augusto C. Pires de Lima) 

3 comentários:

  1. Mais oportuno teria sido no prôximo Natal sedento que vai ser de humanidade. Mas, está bem resolveu publicá-lo agora. Assim o entendeu. Frei Agostinho em verso heróico e de rima emparelhada cuja primeira quadra prepara o leitor para a dureza da situação. Notável a introdução da voz sob a forma dialógica que mais acentua o pendor humano.

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    1. Esplêndida análise, meu caro. Quanto ao tempo, obedeci à cronologia. Abraço

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  2. Quem é que pode não sentir uma ternura imensa pelo Menino e sua Mãe?!

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