SONETO
Sobre estas duras, cavernosas fragas,
Que o marinho furor vai carcomendo,
Me estão negras paixões n'alma fervendo,
Como fervem no pego as crespas vagas.
Razão feroz, o coração me indagas,
De meus erros a sombra esclarecendo,
E vás nele (ai de mim!) palpando e vendo
De agudas ânsias venenosas chagas.
Cego a meus males, surdo a teu reclamo
Mil objectos de horror co a ideia eu corro,
Solto gemidos, lágrimas derramo.
Razão, de que me serve o teu socorro?
Mandas-me não amar; eu ardo, eu amo:
Dizes-me que sossegue: eu peno, eu morro.
Manuel Maria Barbosa du Bocage (Setúbal, 1765 - Lisboa, 1805)
in José Régio (Vila do Conde, 1901-1969), As Mais Belas Líricas Portuguesas (s.d.)
Bocage, legível....o coração tem razòes que a razão desconhece é lugar-comum No entanto, é positiva a preocupação com a vigilância da Razão presente já em Camôes ( com o qual poeta Bocage se assemelha, conforme escreveu). Erros meus que Natália foi repescar para a biografia do Épico.Bocage tão esquecido e a reler.Boa escolha
ResponderEliminarDe facto, o Bocage nem sempre é legível no seu arcadismo. Aqui, temos já o pre´-romântico desabrido.
EliminarAmor é doença mental, digo eu prosaicamente há muitos anos.
ResponderEliminarJ. A. Marcos Serra