19 de outubro de 2023

POESIA EM LÍNGUA PORTUGUESA, século XX (13)

 

DAQUI, DESTA LISBOA…

 

Daqui, desta Lisboa compassiva,

Nápoles por suíços habitada,

onde a tristeza vil e apagada

se disfarça de gente mais activa;

 

daqui, deste pregão de voz antiga,

deste traquejo feroz de motoreta

ou do outro de gente mais selecta

que roda a quatro a nalga e a barriga;

 

daqui, deste azulejo incandescente,

da soleira de vida e piaçaba,

da sacada suspensa no poente,

do ramudo tristôlho que se apaga;

 

daqui, só paciência, amigos meus!

Peguem lá o soneto e vão com Deus…

 

ALEXANDRE O´NEILL, De Ombro na Ombreira (1969)


4 comentários:

  1. Para mim, este é que é o grande poeta do desfeito grupo dos surrealistas, e não o Cesariny, por acaso (?) ambos na minha antologia.

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  2. A porta do trinco dentário
    A porta da sala de não jantar
    A porta postigo do olhar

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  3. "Nápoles por suíços habitada". Fantástico. Em quatro palavras pinta-se um quadro de Lisboa.

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  4. Atualmente teríamos de enfiar os tuck tuck em qualquer lado (salvo seja).

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