23 de outubro de 2023

POESIA EM LÍNGUA PORTUGUESA, século XX (16)

 

A ÁRVORE

 

Semelhante à sombra do homem,

assim chego à luz das chamas. Ardo

em dúvida, múltiplo e dividido,

e também ouço o barulho dos que medem

a dupla distância: da razão à loucura,

da cabeça aos pés.

Na verdade, os áridos olhos evitam o azul,

a cor uníssona,

e rendem ao túmulo solar o culto

da sua própria abertura.

Pródigos em sagrado

para que eu, receosamente, nomeie

os grandes braços da tempestade.

 

NUNO JÚDICE, O Mecanismo Romântico da Fragmentação (1975)

 


3 comentários:

  1. Apesar de gostar de algumas coisas, ele não é um dos meus poetas.

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  2. O nosso amigo talvez seja mais do género Florestan Fernandes de quem António Cândido foi um companheiro de armas. Um pensador nato. Aconselho a ler o texto "Carlos Marighella, a chama que não se apaga" considerando tal homem "um sonhador com os pés no chão e a cabeça no lugar".

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  3. Gosto deste Judice inicial aonde incluo naturalmente o Judice da "Noção de Poema" cuja leitura recomendo. Desgosta-me este NJ do tipo cozido à portuguesa com letras . No entanto, è seguramente uma inteligência rara que nos surpreende a cada momento das suas" prospecções " nos mais distintos campos da cultura aonde estâ completamente àvontade.

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