TROVA À MANEIRA ANTIGA
Comigo me desavim,
Sou posto em todo o perigo;
Não posso viver comigo
Nem posso fugir de mim.
Com dor, da gente fugia,
Antes que esta assim crescesse;
Agora já fugiria
De mim, se de mim pudesse.
Que meio espero ou que fim
Do vão trabalho que sigo,
Pois que trago a mim comigo,
Tamanho imigo de mim?
Não posso viver comigo
Nem posso fugir de mim.
Com dor, da gente fugia,
Antes que esta assim crescesse;
Agora já fugiria
De mim, se de mim pudesse.
Que meio espero ou que fim
Do vão trabalho que sigo,
Pois que trago a mim comigo,
Tamanho imigo de mim?
Sá de Miranda (Coimbra, 1481 - Amares, 1558)
in José Régio, Poesia de Ontem e de Hoje para o Nosso Povo Ler (1956)
Sá de Miranda, grande personalidade! Retirado para a "aurea mediocritas" quatro séculos antes de Herculano. Também gosto muito destas trovas à maneira antiga:
ResponderEliminarAO AMOR E À FORTUNA
Amor e Fortuna são
dous deuses que os antigos
ambos os pintaram cegos;
ambos não seguem rezão;
ambos aos mores amigos
dão mores desassossegos;
ambos são sem piedade;
ambos não lhes tomais tino
do querer ou não querer;
ambos não falam verdade:
Amor é cego minino,
Fortuna é cega mulher.
Lembrou-me o Camões do desconcerto do mundo.
EliminarTrês séculos, corrijo! ahahah!
ResponderEliminarÉ extraordinária a forma como ele nos dá o conflito interior. E sabendo-se da retirada da corte, ainda mais.
Eliminarhttps://youtu.be/tO4dxvguQDk?feature=shared
ResponderEliminarBem escolhido.
EliminarTenho em grande conta o pensamento subjacente.
ResponderEliminarMas como se afirma que há remédio para tudo, menos para a «da gadanha», do mesmo modo que se foge da corte, pode-se fugir de cá: é questão de nível de coragem e vontade.
Aprecio o autor.