Ó tocadora de arpa, se eu beijasse
Teu corpo sem beijar a tua poma
E beijando-o unisse pela soma
Aos quatro sexos meus e te enterrasse
Tão fundo o meu caralho que gravasse
Em soberba medalha de cristão
Ajoelhando amigos e irmão
Quando, processional, o entregasse
À forma que submete e que extasia,
À forma inteira, igual da luz do dia,
E tu por baixo, árdua, entre os varais.
Caverna em estalactites, minha sina.
Não poder eu descê-la, descer mais
Que vê-la e que perdê-la na retina!
MÁRIO CESARINY, O Virgem Negra, Fernando Pessoa explicado às criancinhas naturais &
estrangeiras por M.C.V. Who Knows Enough About It (1988)
Ó tocadora de harpa, se eu beijasse
ResponderEliminarTeu gesto, sem beijar as tuas mãos!,
E, beijando-o, descesse pelos desvãos
Do sonho, até que enfim eu o encontrasse
Tornado Puro Gesto, gesto-face
Da medalha sinistra – reis cristãos
Ajoelhando, inimigos e irmãos,
Quando processional o andor passasse!...
Teu gesto que arrepanha e se extasia…
O teu gesto completo, lua fria
Subindo, e em baixo, negros, os juncais…
Caverna em estalactites o teu gesto…
Não poder eu prendê-lo, fazer mais
Que vê-lo e que perdê-lo!... E o sonho é o resto…
FERNANDO PESSOA, “Passos da Cruz IV”, publicado em “Centauro”, nº 1, Out.-Dez. 1916.
Oh, o Cesariny, grande iconoclasta fazendo pendant com o Pacheco. Por vezes parece um grande poeta, mas não é e nunca será um dos meus -- embora, grande sacana -- tenha alguns dos mais belos poemas que já se escreveram na nossa língua. Também o tenho, cá na minha.
ResponderEliminarEscrevi três vezes a palavra grande, bolas.
EliminarFinalmente, à mostra no Museu De Castro!
ResponderEliminarProva de percurso em amplo observatório e grande conclusão filosófica: a ética é circunstancial. Depende dos outros e nada tem a ver com classes sociais.
Manuel "Nunes", muito prazer!
Não consigo encontrar a canção do Elvis Presilha: fever, mas dedico-lha .
Obrigada R. por ter acedido ao meu pedido de ser retirada da vossa lista.
ResponderEliminarFiquem bem e divirtam-se.
Se isto é poesia de qualidade, é excelente, porque, sob este pressuposto, ainda me resta a esperança de eu vir a ser um grande poeta.
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