Encerrando, pela minha banda, o tema
das “100 Cartas”, refiro-me às de Jorge Amado (p. 48) e Alves Redol (p. 146).
Como vem sendo hábito, faço a partir
de ambas algumas considerações de ordem particular e pessoal.
= 1ª, de JORGE AMADO, datada de 10 de
Setembro de 1934.
A carta é escrita do Rio de Janeiro
para onde o escritor se havia mudado em 1930, ingressando no ano seguinte na
Faculdade de Direito. Parte importante é sobre o romance em preparação Jubiabá, a história de António Balduíno,
menino pobre da cidade de Salvador que foi crescendo e ganhando consciência da
sua condição de explorado. Pai Jubiabá, cujo nome dá título ao romance, é muito
mais que um macumbeiro ou pai-de-santo, é a personagem que representa, também
pela língua, a ancestral cultura ioruba dos escravizados. Pai Jubiabá não
percebia nada de greve, diz Balduíno, mas conhecia a história e o sofrimento do
povo escravo de África.
Este livro estava agendado para a
sessão de Março da Comunidade de Leitores de São Domingos de Rana. A discussão
foi sendo feita no blogue, tal como aqui, e no dia próprio – 27 de Março – teve
lugar uma discussão virtual na página da Comunidade no facebook. Esta discussão
recebeu 69 comentários e teve 39 visualizações.
= 2ª, de ALVES REDOL, datada de Agosto
de 1950.
É uma carta em torno do romance A Curva
da Estrada, romance que tem tanto de psicológico como de mensagem ética e
política. De acordo com o texto do Pórtico, Redol reconhece nele os gérmenes duma
grande peça de teatro, e como que incita o escritor a realizar essa
transposição: «Está ali uma grande peça de teatro, sem dúvida também. Nada lhe
falta para conquistar o tablado; mas pelo seu prefácio parece deduzir-se que
não está tentado a fazê-lo. Que galeria de tipos e de caracteres!»
De Alves Redol, Fanga foi o primeiro livro que li, ainda
na adolescência, pois o meu pai – operário da Ford Lusitana – tinha uma tosca
estante em que se aglomeravam livros como este, alguns de Júlio Verne e Júlio
Dinis, mais uns tantos como A Rosa do
Adro e outros comprados em fascículos depois agregados em encadernações
baratas, como A Toutinegra do Moinho. Este,
em vários volumes, é referido por Saramago n´As Pequenas Memórias. Era uma literatura ingénua de consumo tipicamente
popular. Mais tarde reli A Fanga com
outros olhos e também Gaibéus, Avieiros e
Barranco de Cegos, a obra-prima do
escritor de Vila Franca.
Nota: as imagens reproduzidas correspondem aos livros em meu poder - a edição de Jubiabá, livro usado, que recentemente me chegou às mãos; e o Fanga velhinho da estante do meu pai.
Tão bom recordar assim!
ResponderEliminarSaboroso cálice de licor, Manuel! Obrigado!
ResponderEliminarObrigado, caros amigos, pelo acolhimento do escrito. E agora vamos ao Ruben A., embora não disponha ainda do livro. Mas tenho cá em casa o primeiro volume de O MUNDO À MINHA PROCURA e a biografia do autor feita pelos sintrenses Liberto Cruz e Madalena Carretero Cruz. Já é qualquer coisa... :)
ResponderEliminarA propósito de Rúben A., desconfio que poucos dispõem do livro e terão possibilidade de o adquirir a tempo. É o meu caso.
ResponderEliminarNão seria, assim, preferível escolher outro, que a grande maioria tenha em casa, tipo, A Queda de um Anjo ou O Primo Basilio ou Viagens na Minha Terra ou um da Agustina, ou avançar com um mais lá da frente que a maioria tenha.
À consideração do nosso mentir Ricardo.
Caro, Fernando, gostei bastante de ser o vosso 'mentir'...)
EliminarSobre o problema que põe, direi por mail.
Abraço
Quando um mentiroso, por falta de talento, não aguenta a fábula e 'descai', costuma dizer-se que lhe foge a língua para a verdade.
EliminarAsseguro que não foi o caso 😅
Ora ainda bem :)
EliminarApenas uma achega, a propósito da carta do Jorge Amado, reveladora da importância que Ferreira de Castro, com «Emigrantes» e especialmente «A Selva», teve para essa geração do romance nordestino, nomeadamente Jorge Amado e José Lins do Rego -- como, de resto, já fora assinalado por Álvaro Salema no livro que dedica ao escritor de «Gabriela, Cravo e Canela». Aliás, por alguma razão, castro é o português com maior número de referências em «Navegação de Cabotagem», o livro de memórias.
ResponderEliminarAh, e «Fanga», livro magnífico, foi também o primeiro que li do Redol...
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