28 de fevereiro de 2012

Charles Maurras

Charles Maurras, um maître à penser de Salazar, é escolhido por pares como o sucessor de Anatole France, «príncipe dos escritores»:

«Eu reconheço, fora de todas as divergências de ideias, que o famigerado reaccionário de "L'Action Française» é um espírito culto e um crítico, por vezes, muito penetrante. Mas daí a considerá-lo como o príncipe das letras francesas... Não, isso é querer afrontar o próprio ridículo. É afrontar a memória de Anatole, que usou aquele título -- é afrontar os escritores que futuramente o virão a usar, merecidamente.»
A Batalha, 19 de Janeiro de 1925

Ecos da Semana -- A Arte, a Vida e a Sociedade, Lisboa, Centro de Estudos Libertários, 2004, p. 14.

(também aqui)

4 comentários:

  1. "Anatole-France, Epicuro de farmocopeia-homeopática ténia-Jaurés do Acien-Régime, salada de Renan-Flaubert em loiça do século dezassete... etc.,etc." (Ah!Ah!Ah!)- o engenheiro naval por Glasgow topava-o! O Ferreira de Castro ainda o via como "príncipe dos escritores". Do Maurras é que nem é bom falar. O Régio - que colaborou n' "A Batalha", nº 126 de 26/4/1926 - é que já sabia da existência dos Proust e dos Gide. Nem todos podiam saber.

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  2. Observação, meu caro: o príncipe era título dado pelos confrades; presumo que uma espécie de poeta laureado à inglesa (embora, creio, não designado pelo governo).
    O Pessoa/Campos ultimava. O pior foi os seus viúvos e viúvas, dopados de pessoína, ignorantes de outras constelações -- não porque não lhes soubessem das existências, mas porque não queriam saber. E porque não queriam (querem) eles saber? Por tacanhez e provincianismo, uma boa parte; porque não rendia, na perspectiva das suas carreiritas universitárias, de que se reformarão sem deixarem mais que resíduos em papel, para reciclar.
    Sobre o Régio, já disse da minha enorme admiração por ele em n sítios e ocasiões, conheço-lhe uma parte da obra, e a «presença» de fio a pavio. Muito superior a qualquer dos outros directores da folha coimbrã em qualquer dos domínios em que os outros se distinguiram.
    O Castro, puro romancista, tudo o resto gravitava em volta dessa sua qualidade. Você ficaria, porém, espantado com o que ele conhecia nos anos 20, e das coisas de que ele falou, curiosamente até mais que na literatura, na pintura e no cinema, p. ex. Tenho, aliás, um artigo para sair há dois ou três anos em que afloro a questão. Qualquer dia publico-o na Castriana e/ou ás postas no blogue.
    Abraço.

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    1. Sim, sim, nenhum acinte em relação ao romancista de Ossela: sabemos bem como fez a sua formação e como se impôs aos seus pares à margem de grupos e escolas.
      Quanto a Pessoa, sabemos para que lhe servia o engenheiro naval. Curiosamente também para fazer passar por ele algumas das suas maiores manifestações de génio.
      Do Régio, delicio-me com o que aconteceu com o Gaspar Simões, e outros, ouvindo dele, pela primeira vez, os nomes dos novos. Só que talvez não seja tão incondicional como o Meu Caro Amigo. Especialmente agora que ando com "A Velha Casa" às costas, um ciclo romanesco na minha modesta opinião com bastantes defeitos. Mas vá-se lá dizer isto ao Eugénio Lisboa e outros que tais.
      Abraço.

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    2. Meu caro, às vezes também receio de padecer de castrite. Fraquezas...
      Pessoa, I rest my case, como diria Sófocles.
      Régio: confesso, envergonhado, a minha ignorância de A Velha Casa; mas basta ter escrito o Jogo da Cabra Cega e o Davam Grandes Passeio ao Domingo... Esse episódio com o JGS não estou agora a ver (sexta, você conta-me). Ler o JGS é delicioso, com a sua parcilidade e pequenos rancores, mas é obra (não lhe chamo o nosso Saint-Boeuf, como fez o Jaime Brasil) nem digo que ele sofria de proustatite (Tomás Ribeiro Colaço). O Simões será sempre um (digno) émulo do Régio (isto apesar do Elói ser cinco anos anterior ao Jogo, o que não quer dizer nada, dada a "emulação"). O Branquinho poderá ombrear com o JR no conto (e também não era mau poeta), o Casais Monteiro era um poeta medíocre; podia confrontar-se com o JR na crítica e no ensaio (confesso também desconhecer o seu único romance, mas não me cheira). Assim de repente, o Régio só tinha dois que lhe fazem sombra: o Miguel Torga e, principalmente, o Vitorino Nemésio (se exceptuarmos o teatro).
      Enfim, benficas-sportingues literários, como diria o José-Augusto França.
      Abraço.

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