VILANCETE
Como quereis que me ria,
Corpo de ouro, se vos digo
Que trago a morte comigo?
Vir um dia a apodrecer,
Se é destino de quem vive,
Outro destino não tive
Desde a hora de nascer:
Como não hei-de sofrer,
Corpo de ouro, se vos digo
Que trago a morte comigo?
Na dor de todo o momento
Meus dias tristes se vão,
E só tenho a podridão
Em paga do sofrimento:
Sombra de contentamento,
Como a terei se vos digo
Que trago a morte comigo?
Júlio Dantas (Lagos, 1876 - Lisboa, 1962)
Nada (1896) / Líricas Portuguesas, 2.ª Série
(edição de Cabral do Nascimento)
O homem devia estar mesmo em baixo quando escreveu isto.
ResponderEliminarMas lá que é um belo poema...
Um grande poema dos vinte anos.
EliminarMorra o Dantas, morra! Pim!
ResponderEliminarSim, mas não este Dantas!
EliminarEu pensava que o Dantas era um homem de Fé...
EliminarEste ou o outro. Como Castilho, foram os desígnios dos novos que os tramaram. Viva a Geração de 70, viva o órfico Almada! É a vida, lido bem com isso.
EliminarAté já prestei homenagem ao autor de "A Ceia dos Cardeais", visitando em Lagos a biblioteca que tem o seu nome. Depois fui à praia de Dona Ana, ou à Meia Praia, já não me lembro bem...
EliminarVer os índios?...
Eliminarjunta o Castilho ao Dantas e tem um Júlio de Castilho.
EliminarGrande Zeca Afonso!
EliminarGrande, enorme, único, inolvidável e inigualável.
EliminarSou homem de Fé (se Fé é aquilo em creio assentar a existência), mas também tenho a noção evidente «Que trago a morte comigo». Quem não traz?
ResponderEliminarGosto do talho do poema.
J. A. Marcos Serra
Também eu, tanto que está nos 101...
EliminarJosé, por mais que esperneemos, nunca conseguiremos a resposta de um trilião de triliões de sestércios de ouro: quem sou, de onde venho, para onde vou?
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