14 de fevereiro de 2024

25 poemas passados para português - #14.


QUERERIA ESCREVER POEMAS


Quereria escrever poemas   à noite

E não posso.

Tenho de traduzir os textos

De promoção a

Um creme de beleza.


Vejo pessoas   rapazes

Que não são aqueles

Que desejaria ver.

Os outros   não os conheço.


Converso com raparigas   na cantina

E dizemos coisas 

Idiotas

Que não merecem ser ditas.

Tenho medo de habituar-me

E seguir assim   até à morte.

Alba de Céspedes (Roma, 1911 - Paris, 1997),
Les Filles de Mai (1968)
versão: Ricardo António Alves (Lisboa, 1964)



JE VOUDRAIS ÉCRIRES DES POÈMES

Je voudrais écrire des poèmes,
le soir,
et je ne peux pas.
Il me faut traduire les textes
publicitaires
d'une crème de beauté.

Je vois des gens, des gars,
qui ne sont pas ceux
que je voudrais voir.
Les autres,
je ne le connais pas.

Je cause avec des filles,
à la cantine,
et nous disons des choses
idiotes,
qui ne valent pas la peine
d'être dites.

J'ai peur de m'habituer
et d'aller de l'avant comme ça,
jusqu'à la mort.

4 comentários:

  1. Versão limpa e escorreita, liberta do literal e da arquitectura estrófica. «Tenho medo de habituar-me / e seguir assim até à morte» -- bonito de se ler quando há tantos que chafurdam no irrelevante e não dão por nada.

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  2. Interessante, clarividente, é o que posso dizer neste momento ...

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  3. «Só há um tempo». Serviria como título... ou como epílogo.

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