23 de fevereiro de 2024

101 poemas portugueses - #23.


VENDO A MORTE


Em todo o lado vejo a morte! E, assim, ao ver
Que a vida já vem morta cruelmente
Logo ao surgir, começo a compreender
Como a vida se vive inùtilmente...

Debalde (como um náufrago que sente,
Vendo a morte, mais fúria de viver)
Estendo os olhos mais àvidamente
E as mãos p'ra a vida... e ponho-me a morrer.

A morte! sempre a morte! em tudo a vejo,
Tudo ma lembra! E invade-me o desejo
De viver toda a vida que perdi...

E não me assusta a morte! Só me assusta
Ter tido tanta fé na vida injusta
...E não saber sequer p'ra que a vivi!


Manuel Laranjeira (Mozelos, Santa Maria da Feira, 1877 - Espinho, 1912)

Comigo (1912) / Líricas Portuguesas. 2.ª Série

(ed. de Cabral do Nascimento)

6 comentários:

  1. Respostas
    1. Suicidou-se; Desagradou-lhe certamente a resposta que encontrou.

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    2. Não sabia do suicídio; se soubesse não lhe teria mostrado a concordância...
      J. A. Marcos Serra

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    3. Sendo médico, é provável que soubesse identificar a patologia de que sofria, o que torna a coisa ainda mais dramática.

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  2. É tido como fundamental ao conhecimento do trágico no pensamento português. É dos poucos que tendo publicado tão escassamente vingouna literatura portuguesa. A revista Prelo, in-cm, tem um estudo a propósito do pessimismo na literatura e pensamento português que o inclue.

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