ON HIS BLINDNESS
Ao cabo dos anos o que me rodeia
é uma obstinada neblina luminosa
que reduz a coisas a uma coisa
sem forma nem cor. Quase uma ideia.
A vasta noite elementar e o dia
cheio de gente são essa neblina
de luz incerta e fiel que não declina
e que se oculta na madrugada. Quereria
ver uma cara uma vez. Ignoro
a inexplorada enciclopédia, o prazer
de livros que é dado à minha mão reconhecer,
as altas aves e as luas de oiro.
Aos outros cabe-lhes o universo;
a mim, penumbra, o hábito do verso.
Jorge Luis Borges (Buenos Aires, 1899 - Genebra, 1896),
Os Conjurados (1985)
versão de Maria da Piedade Ferreira e Salvato Teles de Meneses
(original aqui)
Não conheço (infelizmente) quase nada de JLB. Mas ao ler este poema, vejo-o A lamentar a sua perda de visão. Será?...
ResponderEliminarRegozijo, não é; porém, "o hábito do verso" trará qualquer coisa de remissão.
EliminarAh, Borges ❤️
ResponderEliminarÉ um conforto.
EliminarBorges, bibliotecário cego, como o Jorge de Burgos de "O Nome da Rosa". Borges faz-se presente em vários romances do século 20. Avanço já com dois: "O Ano da Morte de Ricardo Reis", de Saramago, e "O Vendedor de Passados", de Agualusa. Avancem com outros, se se lembrarem, ó refinados bloguistas!
ResponderEliminarLembro "Cem Anos de Solidão", de Márquez
EliminarNão fazia ideia de que lá estava o Borges; nem sei até se quando o li já tinha ideia do Borges, que entre nós, convém que se diga, é uma descoberta "recente", penso que após a tradução dos Poemas Escolhidos, pelo Ruy Belo. O Sena ignora-o na Poesia do Século XX -- não certamente porque o desconhecesse, acredito.
EliminarAliás, li por aí, na ciência da Net, que o Borges teria dito em relação aos Cem Anos de Solidão que 50 já bastavam.
EliminarEssa é boa... Depreendo-lhe a ironia a flechar a obra-prima, ou ou autor dela.
EliminarDa primeira vez que li "Cem Anos de Solidão" também não fazia ideia de que lá estava o Borges 🙂 Foi só depois da sua descoberta. Não sei bem quando, mas terá sido antes de 2016, pois não encontro as entradas no Goodreads. De qualquer forma, recordo-me do impacto que teve em mim aquelas estruturas labirínticas e realismo mágico. Foi um passo para as releituras de romances nos quais não me tinha apercebido, porque desconhecia, a sua presença. "Cem Anos de Solidão" foi um deles. Confesso que, apesar de ter gostado do Vendedor de Passados, não sabia da sua influência. E agora, ao investigar no GR, descobri nas minhas notas que também inspirou Calvino nas "Novas Cosmicómicas".
EliminarE é por isto que gosto muito de espaços como este. Sempre a descobrir, relembrar, investigar 😊
Dois além de "O Nome da Rosa", acrescento em tempo.
ResponderEliminarCaro, tirando esses dois -- aliás, fui recordado há pouco dessa ocorrência no Saramago, que li quando saiu, in illo tempore -- não sei de mais nenhum.
EliminarConheci Borges como tantos mais na alvorada de Abril revelado por amigos meus; Depois li o Livro de Areia com as suas estórias fantásticas; acompanhei-o ao Borges de Moncorvo, nas revelações que o JL fazia, inclusive entrevistas e a sua original noção de eternidade até encontrar a Maria Kodama num congresso e, por segundos, expandi no eter a minha cegueira cultural ...
ResponderEliminarTambém me lembro dessas incursões portuguesas.
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