6 de janeiro de 2024

101 poemas portugueses - #16.


AO LONGE OS BARCOS DE FLORES


Só, incessante, um som de flauta chora,
Viúva, grácil, na solidão tranquila.
-- Perdida voz que entre as mais se exila,
-- Festões de som dissimulando a hora

Na orgia, ao longe, que em clarões cintila
E os lábios, branca, do carmim desflora...
Só, incessante, um som de flauta chora,
Viúva, grácil, na escuridão tranquila.

E a orquestra? E os beijos? Tudo a noite, fora,
Cauta, detém... Só modulada trila
A flauta flébil... Quem há-de remi-la?
Quem sabe a dor que sem razão deplora?

Só, incessante, um som de flauta chora...

Camilo Pessanha (Coimbra, 1867 - Macau, 1926),
Clepsidra (1920)

4 comentários:

  1. Poema muito belo como são todos os da lavra de um Pessanha simbolista que fez escola. Recordo que Urbano Tavares Rodrigues tinha a Clépsidra, e, as Flores do Mal, como livros da sua vida. Nesta perspectiva simbolista recordemos o já nosso conhecido Cabral do Nascimento publicado aqui no nosso forum.

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    1. E havia que recuperar algum Eugénio de Castro, entre outros.

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  2. Mantenho a visão que tinha expressado sobre o poema.

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