SONETO JÁ ANTIGO
Olha, Daisy: quando eu morrer tu hás-de
Dizer aos meus amigos aí de Londres,
Embora não o sintas, que tu escondes
A grande dor da minha morte. Irás de
Londres p'ra York, onde nasceste (dizes...
Que eu nada que tu digas acredito),
Contar àquele pobre rapazito
Que me deu tantas horas tão felizes,
Embora não o saibas, que morri...
Mesmo ele, a quem eu tanto julguei amar,
Nada se importará... Depois vai dar
A notícia a essa estranha Cecily
Que acreditava que eu seria grande...
Raios partam a vida e quem lá ande!...
ÁLVARO DE CAMPOS
Mas que soneto! Nele, e pela 'voz' do seu talvez mais importante heterónimo, Pessoa escancara perante o mundo as suas desilusões amorosas e confessa a angústia existencial que toda a vida o acompanhou. Repare-se na subtileza e arte poética.
ResponderEliminarComo o título do poema ficou no 'tinteiro', e não vejo forma de o colocar no seu lugar, deixo-o aqui: 'POEMA JÁ ANTIGO'
ResponderEliminarO último verso é muito Campos, embora ele me pareça aqui muito pessoano...
ResponderEliminarSabem que existe uma teoria (menos comum) sobre a origem dos heterónimos de F. P., ligada à vivência dele com uma tia (com práticas menos usuais), na África do Sul?
ResponderEliminarTinha ideia de que essa tia se exteriorizava toda já cá, ou seja depois do regresso dele da África do Sul.
EliminarSobre a génese dos heterónimos, só conheço a carta a Adolfo Casais Monteiro, embora não ponha as mãos no fogo pela sua sinceridade. Da tia não sei nada, mas não me importava de saber.
ResponderEliminarBasicamente era uma tia chalupa que falava com os espíritos e outras tretas em que o Pessoa também acreditava, ou dizia que acreditava (mas parece que sim).
EliminarPenso que este poema pertence todo ao engenheiro sensacionista, o tal que queria "sentir tudo de todas as maneiras". Ver o longo poema com este título. Lá está uma Mary, e um Freddie a quem chamava baby... "Fui todos os ascetas, todos os/postos-de-parte, todos/os como que/esquecidos/e todos os pederastas-/absolutsmente todos/(não faltou nenhum)". De Pessoa nada se retira de simples e definitivo.
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