FADO ALENTEJANO
Alentejo, ai solidão,
Solidão, ai Alentejo,
Pátria que à força escolhi!
Quando cheguei, quis-te mal,
Alentejo-ai-solidão…
Julguei eu que te quis mal.
Chegava do vendaval,
Tão cego que te nem vi!
Alentejo, ai solidão,
Solidão, ai Alentejo,
Adro da melancolia!
Tua tristeza me pesa!
Alentejo-ai-solidão…
Quanto, às vezes, me não pesa!
Mas fora de essa tristeza,
Pesa-me toda a alegria.
(…)
Alentejo, ai solidão,
Solidão, ai Alentejo,
Convento do céu aberto!
Nos teus claustros me fiz monge,
Alentejo-ai-solidão…
Em ti por ti me fez monge.
Perdeu-se-me a terra ao longe,
Chegou-se-me o céu mais perto.
Alentejo, ai solidão,
Solidão, ai Alentejo,
Padre-nosso de infelizes!
Vim coberto de cadeias,
Alentejo-ai-solidão…
Coberto de vis cadeias!
Mas estas com que me enleias,
Deram-me asas e raízes.
--- Fado, 1941 (poema incluído na obra a partir da 3ª edição, de 1969)
Merece uma música perfeita para ser cantado com sentimento. Só lhe faz falta a palavra «amplidão» de que gosto, não sei porquê... ou sei...
ResponderEliminarOs versos de "Fado Português", cantados por Amália com música de Alain Oulman, pertencem a esta obra de certa maneira dúplice no seu conteúdo: fado-destino e fado-canção. Isto de forma simplificada, porque "Fado" tem mais que se lhe diga.
EliminarRégio dissertou sobre o fado (de Lisboa e de Coimbra) no ensaio "António Botto e o Amor" (1938). Num painel do Museu do Fado, em Lisboa, está a sua figura ao lado de David Mourão-Ferreira (também cantado por Amália) e de outro poeta, se não me engano Alexandre O´Neill.
EliminarAprendendo e recordando a ida ao Museu do Fado. Bem hajas.
EliminarJosé Marcos Serra
Custa-me ler os poemas às postas; é por isso que na minha escolha não há poemas relativamente extensos, com uma ou duas excepções. O Régio é uma dela.
ResponderEliminarOs poemas de "Fado" são extensos. Como me propus contemplar todas as obras, teve de ser. Neste caso, cortei apenas duas estrofes (a 3ª e a 4ª), um mal menor.
Eliminar