23 de janeiro de 2024

JOSÉ RÉGIO: 11 OBRAS, 22 POEMAS - VIII

 

FADO ALENTEJANO

 

Alentejo, ai solidão,

Solidão, ai Alentejo,

Pátria que à força escolhi!

Quando cheguei, quis-te mal,

Alentejo-ai-solidão…

Julguei eu que te quis mal.

Chegava do vendaval,

Tão cego que te nem vi!

 

Alentejo, ai solidão,

Solidão, ai Alentejo,

Adro da melancolia!

Tua tristeza me pesa!

Alentejo-ai-solidão…

Quanto, às vezes, me não pesa!

Mas fora de essa tristeza,

Pesa-me toda a alegria.

 

(…)

 

Alentejo, ai solidão,

Solidão, ai Alentejo,

Convento do céu aberto!

Nos teus claustros me fiz monge,

Alentejo-ai-solidão…

Em ti por ti me fez monge.

Perdeu-se-me a terra ao longe,

Chegou-se-me o céu mais perto.

 

Alentejo, ai solidão,

Solidão, ai Alentejo,

Padre-nosso de infelizes!

Vim coberto de cadeias,

Alentejo-ai-solidão…

Coberto de vis cadeias!

Mas estas com que me enleias,

Deram-me asas e raízes.

 

--- Fado, 1941 (poema incluído na obra a partir da 3ª edição, de 1969)



6 comentários:

  1. Merece uma música perfeita para ser cantado com sentimento. Só lhe faz falta a palavra «amplidão» de que gosto, não sei porquê... ou sei...

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    1. Os versos de "Fado Português", cantados por Amália com música de Alain Oulman, pertencem a esta obra de certa maneira dúplice no seu conteúdo: fado-destino e fado-canção. Isto de forma simplificada, porque "Fado" tem mais que se lhe diga.

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    2. Régio dissertou sobre o fado (de Lisboa e de Coimbra) no ensaio "António Botto e o Amor" (1938). Num painel do Museu do Fado, em Lisboa, está a sua figura ao lado de David Mourão-Ferreira (também cantado por Amália) e de outro poeta, se não me engano Alexandre O´Neill.

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    3. Aprendendo e recordando a ida ao Museu do Fado. Bem hajas.
      José Marcos Serra

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  2. Custa-me ler os poemas às postas; é por isso que na minha escolha não há poemas relativamente extensos, com uma ou duas excepções. O Régio é uma dela.

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    1. Os poemas de "Fado" são extensos. Como me propus contemplar todas as obras, teve de ser. Neste caso, cortei apenas duas estrofes (a 3ª e a 4ª), um mal menor.

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