MEU MENINO, INO, INO
3
– Acabaste?
– Meu amor, acabei.
– Apagaste a candeia? apagaste?
– Meu amor, apaguei.
– E fechaste o postigo? e fechaste?
– Meu amor…, sim, fechei.
– Que rumor é aquele? não sentes?
– Meu amor, que te importa?
É a vida a dar socos na porta.
É lá fora. São eles. É o mundo. São
gentes…
– São gentes? Quem são?
– São colegas, amigos, parentes…
– Vai dizer-lhes que não! Vai
dizer-lhes que não!
--- As Encruzilhadas de Deus, 1936
Este poema foi um dos apontados pelo jovem Álvaro Cunhal (artigo na "Seara Nova", nº 615 de 27-5-1939) como exemplo do subjectivismo da poesia de Régio. Dizia ele: «O seu eu passa a ser motivo predominante da sua vida. Só por acaso lá à sua peanha chega o ruído das lutas que se travam na encruzilhada, para evitar recordações que perturbem a sua fremente análise interior, a sua vida pessoal e solitária.»
ResponderEliminarÉ esta a minha escolha para os 101 -- e por causa de um verso: "É a vida a dar socos na porta.", que me remete, sem outra justificação que não a ocorrência das sinapses do leitor-eu, para o poema do Edgar Lee Masters que aqui postei.
ResponderEliminarGostei sim, da mensagem.
ResponderEliminarComeça com «Acabastes?» Fiquei na dúvida.
Claro que não, já corrigi. Obrigado :)
Eliminar'É a vida a dar socos na porta' - que frase!
ResponderEliminar