12 de janeiro de 2024

JOSÉ RÉGIO: 11 OBRAS, 22 POEMAS - VI

 

MEU MENINO, INO, INO

 

3

 

– Acabaste?

 

– Meu amor, acabei.

 

– Apagaste a candeia? apagaste?

 

– Meu amor, apaguei.

 

– E fechaste o postigo? e fechaste?

 

– Meu amor…, sim, fechei.

 

– Que rumor é aquele? não sentes?

 

– Meu amor, que te importa?

É a vida a dar socos na porta.

É lá fora. São eles. É o mundo. São gentes…

 

– São gentes? Quem são?

 

– São colegas, amigos, parentes…

 

– Vai dizer-lhes que não! Vai dizer-lhes que não!

 

--- As Encruzilhadas de Deus, 1936


5 comentários:

  1. Este poema foi um dos apontados pelo jovem Álvaro Cunhal (artigo na "Seara Nova", nº 615 de 27-5-1939) como exemplo do subjectivismo da poesia de Régio. Dizia ele: «O seu eu passa a ser motivo predominante da sua vida. Só por acaso lá à sua peanha chega o ruído das lutas que se travam na encruzilhada, para evitar recordações que perturbem a sua fremente análise interior, a sua vida pessoal e solitária.»

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  2. É esta a minha escolha para os 101 -- e por causa de um verso: "É a vida a dar socos na porta.", que me remete, sem outra justificação que não a ocorrência das sinapses do leitor-eu, para o poema do Edgar Lee Masters que aqui postei.

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  3. Gostei sim, da mensagem.
    Começa com «Acabastes?» Fiquei na dúvida.

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  4. 'É a vida a dar socos na porta' - que frase!

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