8 de janeiro de 2024

JOSÉ RÉGIO: 11 OBRAS, 22 POEMAS - III

 

SONETO DO JOSÉ MATIAS

 

Aquela aparição, aquela espuma

Que finge ter também um corpo…, aquela

Que é por de mais subtil, por de mais bela,

Para existir aquém do sonho e a bruma,

 

Aquela em quem amei nem sei que suma

De nuvem, flor, árvore, névoa, estrela,

Aquela que a mim próprio me revela,

E me é todas as mais sem ser nenhuma,

 

Sim, tem um nome, é quase uma qualquer,

(Tem o nome de Elisa…) e foi mulher

Dum que a deixou, morrendo, ao dono actual.

 

Esses, não eu!, te gozem, corpo triste.

A Beleza que encarnas e traíste

Só desce até cá baixo ao meu portal…

 

--- Biografia, 1929


3 comentários:

  1. Tem que ver com o conto do Eça? Tenho de o reler...

    ResponderEliminar
  2. Sim, tem. O Eça que Régio não amava, mas respeitava... O conto "José Matias" é do melhor que há no Eça contista.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ele amava o Camilo, e o que escreveu sobre o Júlio Dinis é regianamente certeiro. Décadas à frente dos bonzos.

      Eliminar