Há sempre um esgar quando pego num livro de poesia. Quando abri este, para folhear, a careta foi mais amena, suavizada pela recordação da leitura de Cadernos do Verão que o confrade, Manuel Nunes, tinha escrito antes.
O espreitar levou-me de rajada até à página 40. Para quem repete não gostar de poesia…
Depois de ter chegado ao fim, como leitor comprometido, rumei ao princípio para uma análise crítica, tendo acabado por concluir que a larga maior parte dos poemas me diziam alguma coisa.
E porque é que apreciei? Umas vezes, por coincidência de linha de pensamento; outras, por achar graça, simplesmente; muitas vezes, as mensagens, explícitas e implícitas; ou referências a geografias também visitadas; fazer sorrir, enquanto lia; a ironia suave ou contundente; acicatar memórias.
Mais uma vez julguei que aquilo que faz bulir a imaginação e sentimento do autor é mais uma leitura sintónica, ou visitas culturais, lugares invocativos, mais raramente uma figura humana em si.
Não tenho a cultura poética abrangente da nossa confreira, Paula Silva, que afirmou encontrar-se aqui a melhor poesia contemporânea publicada, mas, se até eu gostei, é porque vale mesmo a pena a leitura.
Obrigado, caro José Serra, pela leitura e notas sobre o trabalho. Leste o livro de seguida até à p. 40. Nesta página está o soneto “Sport TV” que presta tributo a António Nobre, o Anto, como a si mesmo se designava.
ResponderEliminarDizia ele num dos seus sonetos: «Ó virgens que passais, ao sol poente, / Pelas estradas ermas, a cantar!» No soneto “Sport TV” são os velhos que passam já a ruminar as emoções por vezes doentias do futebol.
Fernando Pessoa tem umas palavras curiosas sobre António Nobre nos “Textos de Crítica e Intervenção”. Acaba por dizer que «Quando ele nasceu, nascemos todos nós», ou seja, de certa forma todos nós somos portadores daquela mesma tristeza dos sonhos lusitanos não realizados (ver "Lusitânia no Bairro Latino"). Assim, “Só” será o livro mais triste que há em Portugal, mas Junqueiro iria mais longe: “Finis Patriae”.
De notar, a propósito de "Lusitânia no Bairro Latino", que é o seu caso pessoal que vem à liça misturado com o da Pátria. E há a exaltação do passado e dos valores tradicionais. Fernando Pessoa diz que ele é a face que olha para o passado e se entristece (as palavras são mais ou menos estas).
ResponderEliminarDizer, em continuação, que o José Serra, embora não dado à poesia (o que parece não ser verdade) aborda de forma certeira vários pontos resultantes dos poemas: a ironia, a geografia sentimental dos lugares, o que há neles do autor e dos outros. Ou seja, o particular visando o universal. É sempre bom saber que o leitor se identifica com o que se escreveu. Gostei de ler.
ResponderEliminarAviso: disserto com os pés no ar.
EliminarProsaico que sou, prefiro prosa, mas já tenho encontrado prosa poética (que aprecio algumas vezes)... e poesia prosaica (abrenúncio, tarrenego!); talvez seja esta que me causa engulhos ou, talvez, sentimento de limitação semelhante ao que experimento quando olho para um quadro e não consigo discernir mais que riscos e cores que me não enlevam.
Da poesia que me embala ou induz sentimentos, há aquela cuja cadência e rima entra em sintonia com o meu apetite musical e, mesmo que o conteúdo só tenha conceitos medianamente ricos, digiro, como canção ou melodia. Outra, a que abdica da musicalidade e harmonia, tem de me despertar recordações, sentimentos arquivados, memórias gratas ou agrestes, conceitos criados, princípios vivenciais, sintonias de raciocínio para que a saboreie, mais ou menos ensalivada.
Toda a outra... então a pseudo!!!
Fim da confissão.
Aproveito para saudar o Manuel pelo seu novo livro e tb pelos seus comentários aliás muito claros para todos nós. Como sou dado à poesia estou a ler devagar como nos aconselha Herberto Helder. Um dia farei o meu comentário . Por que estes texto pedem muita atenção e leitores informados e este é o maior elogio que posso fazer neste momento. Para já, gostei do despreendimento do autor/confrade em relação ao tempo e à finitude...
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