26 de janeiro de 2024

101 poemas portugueses - #19.


SONETO


Pára-me de repente o pensamento
Como que de repente refreado,
Na doida correria em que levado
Ia em busca da paz do esquecimento.
Pára surpreso, escutando, atento,
Como pára um cavalo alucinado
Ante um abismo súbito rasgado:
Pára e fica e demora-se um momento.
Pára e fica; na doida correria
Pára à beira do abismo e se demora:
E mergulha na noite escura e fria
Um olhar d'aço que essa noite explora;
Mas a espora da dor seu flanco estria
E ele galga e prossegue sob a espora.

Ângelo de Lima (Porto, 1872 - Lisboa, 1921),
in Cabral do nascimento, Líricas Portuguesas - 2.ª Série (1946)

4 comentários:

  1. Tenho em meu poder a "Obra Reunida", edição de Junho de 2023 da Biblioteca Nacional (prefácio de Nuno Júdice) que me foi oferecida pelo Rui Lopo, um dos coordenadores. Este poema apresenta a disposição estrófica mais comum do soneto (dois quartetos e dois tercetos), tal como na sua primeira publicação na revista ou jornal "O Portugal", nº 87, de 12 de Julho de 1900. O título é "Tedio" e regista algumas pequenas variantes (por exemplo, «Aos pés do abysmo» em vez de «Ante o abismo»-

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    1. Parece que há várias versões com pequenas variantes. Ele tinha-o de cor, ao que julgo saber, também pelo Rui Lopo.

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