Professor, por necessidade e vocação, sacerdote, por amor à mãe e singular missão, escritor, por entranhado afeto à pátria / língua portuguesa e necessidade pungente de clamar revoltas, angústias, ideias, solidão e medos, Pedro Inês da Fonseca, aos 93 anos, deixou que lhe entregassem o corpo, à terra, na manhã fria de 27 de Novembro de 2011.
Homem simples, solitário, humilde, mas sensível e conhecedor da vida e da alma humanas, além de artífice, rigoroso, da língua que falamos, foi capaz de nos legar uma obra literária, em 28 volumes, impressos a custas suas (Europress), e mais 42, já publicados e em vias de publicação, em blog criado para o efeito: (http://pedrofonseca1918.blogspot.com). Nas gavetas e estantes, segundo confidência, estará quase outro tanto que o tempo e a saúde lhe não permitiram rever (com visão monocular debilitada pelos anos e esforço, é pena que muitas gralhas de digitação lhe perturbem, muitas vezes, a escrita).
Filhos, assim lhes chamava, com desilusão de não ter tido outros.
Rigoroso na forma, seguidor dos clássicos, insurgiu-se contra os desmandos do linguajar e escrever; três dos seus livros foram batizados “Venha Aprender Português Comigo”.
Conservador, nalgumas questões do mundo e da vida (religião e vocação genuína, educação cívica, morigeração de costumes, homossexualidade…) não hesitou em assumir posições de fronteira, contra o celibato imposto (por antinatural, causador de males sociais e morais, não determinado por Jesus), a educação forçada e não construída na razão (sem respeito pela liberdade de cada ser), a vocação induzida, seja para a vida religiosa, seja para qualquer mister (manancial de infelicidade sem termo)…
Com amor arreigado, à pátria, zurziu os seus vendilhões, de ontem e de hoje.
De uma religiosidade profunda, os seus escritos estão impregnados dos mais puros conceitos, influenciados por algum ecumenismo quando, em África, conviveu, de perto, com várias confissões cristãs.
Sem olvidar o romance (ou novela, como preferia chamar), a sua obra tem como pilares as Memórias (diários d’aquém e d’além mar) e a didática, em vários espaços da vida e do saber, sob o título Consulta da Tarde.
Ao sofrer, na pele, os horrores e humilhações, como refugiado, no sul de Angola e Namíbia, aquando da descolonização, deixou-nos linhas talhadas a sangue, retratos palpitantes de uma época da nossa história, com os erros e virtudes dos mesmos homens que a foram decidindo.
O que fica por dizer, contrariando o meu impulso de antigo aluno e de amigo de há muitos anos! Manda porém o bom senso que me detenha.
Mas, na hora em que o seu coração deixou de bater, impunha-se-me o dever, sentido, deste preito singelo.
JMS
Homenagem prestada na sessão de 6 de janeiro de 2012
Vou fazer o link para o meu blogue (ou blogues, logo se vê).
ResponderEliminarum abraço