Uma longa carta à pessoa amada, já falecida, que é, simultaneamente, um diário, uma revisitação memorialística e um balanço, com micro-ensaios e reflexões, pequenas narrativas de viagem, poesia -- um livro compósito, enfim, que reflecte os interesses da autora. Pintora de formação, foi na escrita que Irene Lucília Andrade encontrou um lugar para os seus dias, embora a aguda capacidade observadora e descritiva não deixe, creio, de ser tributária dessa aprendizagem de base.
As observações de carácter genericamente político (em especial os relativos aos fenómenos internacionais a que vimos assistindo nos últimos anos) são talvez o menos conseguido desta obra, embora traduzam a impotência do cidadão comum diante do momentoso de que (ainda) só somos testemunhas, em diferido e por vezes em directo; e, nesse especto, constitui um exemplo fidedigno do ambiente geral. O melhor, para mim: as evocações do passado, os pais, a infância, e a descoberta do mundo; e também os vários apontamentos, magníficos, sobre arte, em especial a pintura
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